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Vaticano pode convocar cúpula inter-religiosa sobre o clima

Vaticano pode convocar cúpula inter-religiosa sobre o clima

Vaticano está considerando convocar uma reunião de líderes religiosos para sensibilizar as pessoas sobre o estado atual do clima e sobre as desigualdades sociais resultantes de um planeta aquecido e tecnologizado, à frente de duas importantes reuniões das Nações Unidas sobre clima e sustentabilidade já marcadas para 2015.

A reportagem é de Brian Roewe, publicada no sítio National Catholic Reporter, 25-11-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.

A notícia veio no final de um discurso do bispo Marcelo Sánchez Sorondo, que no dia 10 de novembro, em Londres, deu a Palestra Anual Papa Paulo VI para a Agência Católica para o Desenvolvimento Exterior (CAFOD) – a agência oficial de caridade da Igreja Católica na Inglaterra e País de Gales.

Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências, disse que “2015 pode ser um ano decisivo na história”, já que a ONU tem uma “oportunidade única” em dois eventos separados para estabelecer um curso sustentável para a economia global: em setembro, acontecerá o encontro “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável“, e em dezembro, as negociações sobre o clima em Paris.

“O problema da mudança climática tornou-se um grande problema social e moral, e as mentalidades só podem ser alteradas por razões morais e religiosas”, disse ele.

A partir dessa posição, o bispo disse que o meio acadêmico deu o seu apoio ao Papa Francisco “para publicar umaencíclica ou outro documento importante sobre o clima e a inclusão social para influenciar as decisões cruciais do próximo ano.

“Na verdade, a ideia é convocar uma reunião com os líderes religiosos das principais religiões para tornar todas as pessoas cientes do estado do nosso clima e da tragédia da exclusão social a partir da mensagem bíblica de que o homem é o mordomo da natureza e de seu desenvolvimento humano e ambiental de acordo com o seu potencial e não contra ela, assim como Paulo IV tinha em mente”, disse Sorondo.

Em janeiro, o Vaticano confirmou que Francisco estava trabalhando em uma encíclica focada na ecologia e na “ecologia do homem”. Em seu vôo de volta de sua visita à Coreia do Sul, em agosto, o papa disse aos jornalistas que, pouco antes de sua viagem, ele havia recebido um primeiro rascunho da encíclica do cardeal Peter Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Relatórios fora de Roma antecipam que a encíclica virá em algum momento na primeira metade do novo ano.

A conversação da ONU de 2015 sobre o clima, em Paris, oficialmente conhecida como a 21ª Conferência das Partes, têm como objetivo a adoção de um novo acordo internacional sobre o clima, a entrar em vigor em 2020. Quando oProtocolo de Kyoto expirou no final de 2012, também expirou o único acordo internacional vinculante para a regulamentação de emissões de carbono; as negociações sobre o clima em Doha daquele ano estendeu os compromissos de Kyoto até 2020, apesar de várias nações se esquivarem do acordo. Esta semana, as negociações climáticas foram abertas em LimaPeru.

Caso a conferência religiosa ocorrer, ela não vai ser a única no calendário em 2015. Em sua encíclica patriarcal, na abertura do novo ano eclesiástico, em setembro, o Patriarca Ecumênico Bartolomeu anunciou planos para uma cúpula ambiental em junho próximo, para se concentrar sobre o tema “Teologia, Ecologia e o Verbo: uma conversa sobre o meio ambiente, a literatura e as artes“.

Na palestra CAFODSorondo discutiu as conexões entre o aquecimento do clima, uma economia global construída sobre combustíveis fósseis e as divisões sociais que ambos podem causar.

“Hoje existe evidência científica sólida de que o clima global está mudando e que a atividade humana com base na utilização de materiais fósseis contribui de forma decisiva para esta tendência. Juntamente com uma economia baseada no lucro e o papel que os jogos financeiros desempenham a fim de lucrar com o dinheiro em si, sem uma orientação clara para a produção de bens, isto leva à exclusão social e a novas formas de escravidão, como o trabalho forçado, a prostituição, o tráfico de órgãos e o uso de drogas como forma de corrupção”, disse ele.

O bispo disse que os desenvolvimentos das capacidades tecnológicas nos últimos 200 anos “levaram o homem a uma encruzilhada. … Esses avanços remodelaram a economia mundial de tal forma que ela é cada vez mais urbana e globalmente conectada, mas também cada vez mais desigual”.

Citando Francisco na Evangelii Gaudium, ele descreveu o “efeito bumerangue” da ação humana, que não leva em consideração a natureza, sobre os seres humanos, na medida em que cria uma “globalização da indiferença” e uma “economia de exclusão”.

“As forças de mercado por si só, sem nenhuma ética e ação coletiva, não podem resolver as crises inter-relacionadas de pobreza, exclusão e do meio ambiente”, disse ele, ressaltando que medir a atividade econômica somente pelo produto interno bruto “não leva em conta a associada degradação da Terra, nem as desigualdades injustas entre os países e dentro de cada país”.

Quanto às alterações climáticas, Sorondo afirmou o consenso científico, mais recentemente, o mais recente relatório da ONU, de que o aquecimento do planeta se deve à atividade humana, que está ocorrendo e que está afetando dde forma desproporcional os pobres e os jovens.

“O desafio da mudança climática se tornou não só econômico, político ou social. É também uma questão de moral, religiosa e de valores como a justiça e a inclusão social, a obrigação de solidariedade para com as gerações futuras e a obrigação moral de cuidar da terra, ou seja, a Criação, que é o nosso habitat”, disse ele.

Sorondo pediu a adoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU – esperados para serem construídos sobre o progresso dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio adotados no ano 2000 – para continuar a combater a pobreza extrema e as desigualdades sociais. Embora os meios tecnológicos e operacionais para que isso aconteça existam, disse ele, o maior desafio “pode estar na esfera dos valores humanos”, onde os avanços econômicos levaram a uma ampliação da diferença de renda e redução da igualdade de oportunidades.

“Uma ecologia humana saudável, em termos de virtudes éticas, contribui para a realização de um ambiente sustentável e equilibrado. Hoje, precisamos estabelecer uma relação mutuamente benéfica: a economia precisa estar imbuída de valores verdadeiros, e o respeito pela Criação de Deus deve promover a dignidade humana e o seu bem-estar”, disse ele.

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/538073-vaticano-pode-convocar-cupula-inter-religiosa-sobre-o-clima

 

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