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NA ALDEIA NABORE EIAO, DO POVO BORORO

O termo Bororo significa, na língua nativa, “pátio da aldeia”. Não por acaso, a tradicional disposição circular das casas faz do pátio o centro da aldeia e espaço ritual desse povo, caracterizado por uma complexa organização social e pela riqueza de sua vida cerimonial. A despeito de hoje terem direito a um território descontínuo e descaracterizado, o vigor de sua cultura e sua autonomia política têm atuado como armas contra os efeitos predatórios do contato com o “homem branco”, que se estende há pelo menos 300 anos.

Os Bororo se autodenominam Boe. O termo “Bororo” significa “pátio da aldeia” e atualmente é a denominação oficial.

Ao longo da história, outros nomes foram usados para identificar esse povo, tais como: Coxiponé, Araripoconé, Araés, Cuiabá, Coroados, Porrudos, Bororos da Campanha (referente aos que habitavam a região próxima a Cáceres), Bororos Cabaçais (aqueles da região da Bacia do Rio Guaporé), Bororos Orientais e Bororos Ocidentais (divisão arbitrária feita pelo governo do Mato Grosso, no período minerador, que tem o rio Cuiabá como ponto de referência).

Entre suas autodenominações, destacam-se aquelas vinculadas à ocupação territorial: Bóku Mógorége (“habitantes do cerrado”) são os Bororo das aldeias de Meruri, Sangradouro e Garças; Itúra Mogorége(“habitantes das matas”) correspondem aos Bororo das aldeias de Jarudori, Pobori e Tadarimana; Orari Mógo Dóge (“habitantes das plagas do peixe pintado”) remetem aos Bororo das aldeias de Córrego Grande e Piebaga; Tóri ókua Mogorége (“habitantes dos sopés da Serra de São Jerônimo”) era o nome dado a um grupo atualmente sem aldeia remanescente; Útugo Kúri Dóge (“os que usam longas flechas”) ou Kado Mogorége (“habitantes dos taquarais”) são os Bororo da aldeia de Perigara, no Pantanal.

Localização

O território tradicional de ocupação Bororo atingia a Bolívia, a oeste; o centro sul de Goiás, ao leste; as margens da região dos formadores do Rio Xingu, ao norte; e, ao sul, chegava até as proximidades do Rio Miranda (Ribeiro, 1970:77). Estima-se que esse povo tenha habitado essa região durante pelo menos sete mil anos (Wüst & Vierter, 1982).

Língua

Boe Wadáru é o termo usado pelos Bororo para designar sua língua original. Os lingüistas Rivet (1924) e Schmidt (1926) classificaram-na como isolada e possivelmente vinculada ao ramo Otuké. Posteriormente, um novo paradigma simplificou a classificação das línguas indígenas, reunindo-as segundo certas semelhanças, de modo que a língua bororo foi enquadrada no tronco lingüístico Macro-Jê (Manson,1950; Greenberg,1957).

Atualmente, a língua bororo é falada por quase toda a população. Até o final da década de 1970, contudo, crianças e jovens sofriam a imposição de um regime escolar da missão indígena que proibia que se falasse a língua nativa nas aldeias de Meruri e Sangradouro. Um processo de reavalização e autocrítica dos salesianos culminou no resgate da língua original e do ensino bilingüe. Assim, em todas as aldeias, a maioria da população fala português e bororo.

No cotidiano, a língua falada é a nativa, acrescida de neologismos assimilados do português regional, o qual é acionado apenas nos contatos interétnicos.

Situação atual do território

Atualmente, os Bororo detêm seis Terras Indígenas demarcadas no Estado do Mato Grosso, num território descontínuo e descaraterizado, que corresponde a uma área 300 vezes menor do que o território tradicional. As Terra Indígenas MeruriPerigaraSangradouro/Volta Grande e Tadarimana estão registradas e homologadas; a TI Jarudori foi reservada aos índios pelos SPI (Serviço de Proteção ao Índio), mas foi sendo continuamente invadida, a ponto de hoje estar totalmente ocupada por uma cidade; já a TI Teresa Cristina está sob júdice, uma vez que sua delimitação foi derrubada por decreto presidencial.

Na década de 1970, o alto grau de insatisfação dos Bororo fez surgir um movimento reivindicatório pela recuperação de suas terras tradicionais e pela melhoria dos serviços de saúde e educação. Um caso emblemático desse movimento foi a luta pela terra do Meruri, que culminou no famoso massacre levado a cabo pelos fazendeiros de General Carneiro, onde foram assssinados  Simão Bororo e o Padre Rodolfo (missionário Salesiano), em 1976.

A Aldeia Nabure Eiao faz parte de Meruri e está distante uns 8 km da aldeia central, pertence ao município de General Carneiro.

As pessoas que ali vivem dependem basicamente da floresta, da terra, da caça e da pesca. A terra é bastante arenosa, e nesta época do ano quando a chuva não vem, torna-se seca e a falta de água dificulta a produção, o plantio e a sobrevivência.

Foi plantado pomar que está crescendo ainda. Tem mangueiras, pequizeiro, cajueiro, cumbaru, amora, e outras frutas do cerrado. A esperança é que produza muitos frutos e resista à seca. As árvores do cerrado têm raízes profundas para tirar da profundidade da terra a água que as mantém vivas durante a estiagem.

O cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional. Em Mato Grosso encontram-se as nascentes de duas, das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica e Tocantins), o que resulta em um elevado potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade.

O cerrado é a segunda maior formação vegetal brasileira e originalmente ocupava uma área de quase dois milhões de km2, sendo que hoje ocupa apenas 20% do total. Em Mato Grosso a área ocupada por este bioma é de aproximadamente 300 mil km2, o equivalente a 34% do território estadual.

Mas toda essa biodiversidade está sendo destruída pelo agronegócio e a pecuária. As árvores nativas estão sendo derrubadas, as fontes e nascentes destruídas e os rios poluídos por agrotóxicos, mineradoras e transformados pelas hidrelétricas. O calor está aumentando e as chuvas escasseando. Cachoeiras estão secando e as belezas naturais sendo vendidas e saqueadas.

Os povos indígenas e quilombolas ainda preservam as matas em pé e por isso seus territórios estão sendo cobiçados por empresas e bancos estrangeiros para projetos de reserva de carbono. A floresta, as matas são presa fácil  aos interesses de empresários, fazendeiros, pecuaristas e governos corruptos e corruptores.

Os povos indígenas estão ameaçados e cooptados para entregarem suas terras ao controle destes interesseiros que só visam seus interesses pessoais sem dar o mínimo valor à terra e aos que vivem nela. Seus interesses são as cifras e o poder.

Enquanto isso, os que preservam também sofrem as conseqüências quando hidrelétricas são construídas em rios que abastecem suas aldeias e fornecem o peixe, ou quando inundam seus território e alagam suas roças. Sofrem quando dependem das chuvas para irrigar suas plantações e por causa da derrubada das florestas, elas já quase não caem, ou quando os animais perecem e já não se encontra mais. A anta, o porco do mato, os macacos e outros animais que já não encontram alimento como antes invadem as roças e se alimentam da mandioca, da batata, da banana que seria para alimentar as pessoas que vivem nas aldeias.

Mas mesmo com idade avançada e vendo a mandioca ser comida pela anta, a mãe da aldeia Nabure Eiao não desanima, continua a plantar e acreditar que da terra arenosa, seca e sem chuva, aquilo que se planta, um dia vai brotar e alimentar toda a aldeia

Desde os mais pequenos,  até os maiores…

… vale a pena acreditar, sonhar e plantar…

Faz isso e muito mais pelos filhos, netos, bisnetos e tataranetos, porque a vida semeada, a luta pela terra e a terra conquistada alimentam o sonho no cotidiano, na festa, nos rituais, na partilha e na resistência!

E nós, com o pouco que temos e o desejo imenso de caminhar juntos, a vida E A CULTURA PRESERVAR, não desistiremos jamais, porque temos certeza que “os poderosos podem matar uma, duas e até mil rosas, mas jamais poderão impedir que venha a primavera…” (Bertold Brech).

Sandra Regina Duarte

Do CIMI e do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social – Cuiabá/MT

Sandra Regina Duarte é multiplicanda do Processo de Formação Continuada e Multiplicadora do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social

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