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Mudanças climáticas e aquecimento global: A mídia, os especialistas e as populações locais rurais

Deroní Mendes

Geógrafa e coordenadora do projeto de Formação de Gestores Indígenas no Instituto Indígena Maiwu de Estudos e Pesquisas de MT

Adital

Desde 2005, o ano da grande seca na Amazônia que comecei a ver na mídia os termos mudanças climáticas e aquecimento global e de 2008 em diante tenho a sensação de que estes termos se balizaram quando o assunto é meio ambiente. A importância de um produto ou ação só relevante se não contribuir com o aumento e aceleração do aquecimento global ou se diminuí-lo.

A impressão que se tem é que gravidade de um problema ambiental passou a ser medido a partir do grau de sua contribuição para aumentar o aquecimento global. Aquecimento global transformou-se num indicador de sustentabilidade.

Depoimento de pesquisadores e especialistas no assunto confirmar a tese de que a ação ou produto contribui ou não o aquecimento global. São inúmeros seminários, workshops realizados anual e semestralmente sobre o tema para e com os mais diversos segmentos sociais.

Os oceanos e seus habitantes serão irreversivelmente afetados aquecimento global e as mudanças no clima, o aumentar da temperatura das águas do mar, irá aumentar o nível dos oceanos e mudar as correntes marítimas Espécies inteiras de animais marinhos e peixes estão sob risco de extinção porque não conseguirão se adaptar e sobreviver em condições alteradas.

O Aquecimento global será o responsável pela maior crise alimentar global até final deste século, indica o estudo dos pesquisadores David Battisti e Rosamond Naylor publicado na revista Science em abril de 2009. Segundo o estudo, o aquecimento global causará um forte impacto na produtividade agrícola. Em decorrência da elevação do nível do mar e diminuição da umidade do solo a produtividade agrícola poderá cair até 16% para cada grau a mais na temperatura global.

Dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, órgão das Organizações Unidas – ONU indicam que até meados de 2050, a média no verão será maior do que qualquer outra temperatura já registrada no planeta.

Em estudo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, revelou que o aumento das temperaturas ameaça a produção de arroz no mundo. Segundo a FAO o arroz é imprescindível para garantir segurança alimentar e combater a pobreza no planeta. Estima-se que, cerca de 3 bilhões de pessoas consomem arroz diariamente em todo o mundo. Logo, a queda na produção de arroz levará um maior número de pessoas à pobreza e a passar fome.

A crise de alimento afetará principalmente as regiões tropical e subtropical, onde vivem quase a metade da população mundial, onde se concentra a população mais pobre com alta dependência da agricultura.

No dia 31 de março de 2011, durante a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas o diretor de meio ambiente da FAO afirmou que as mudanças climáticas terão efeitos catastróficos na produção de alimentos entre 2050 e 2100 e sugeriu aos governos medidas urgentes como a criação um banco de genes, porque algumas espécies correm o risco de desaparecer de para evitar que a segurança alimentar seja comprometida.

A Amazônia viveu em 2010 a seca mais severa dos últimos 100 anos, superando até aquela de 2005 recente pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE divulgado no dia 24/08.Constatou-se uma diminuição dos níveis de água e seca completa de cursos d’água e tributários de rios na bacia amazônica causando graves problemas socioambientais, especialmente às populações ribeirinhas, que ficaram isoladas por dependerem dos rios para seu deslocamento.

Ao que tudo indica, as perspectivas são as piores possíveis. O aquecimento global se acelera a passos rápidos e se agrava a cada dia colocando em risco a diversidade genética do planeta e a sobrevivência do ser humano. Espécies e ecossistemas irão desaparecer. São inúmeras também as pesquisas em andamento sobre a mudança do clima e as graves conseqüências para a vida no planeta. As geleiras nos pólos estão derretendo em uma velocidade assustadora.

Haverá escassez de água e de comida em várias regiões do mundo principalmente nos continentes, países, estados e municípios mais pobres e principalmente as populações mais pobres, afirmam os cientistas.Ou seja, as populações locais rurais que dependem mais diretamente dos recursos naturais “in natura” digamos.

De acordo com o diretor-geral assistente de Recursos Naturais da FAO, Alexander Muelleros, meios de subsistência das comunidades rurais estão em risco. As comunidades rurais mais pobres são e serão as mais vulneráveis ao aquecimento global, mas que ninguém se engane, a segurança alimentar e a oferta de alimento afetará as populações das cidades, pois estas dependem dos alimentos produzidos na zona rural.

São os agricultores familiares, povos indígenas, pescadores e outras populações extrativistas, ou seja, as populações locais rurais que dependem diretamente da água dos rios, riachos ou mar para beber, comer, banhar, regar, lavar, produzir, irrigar, enfim, viver. Mas não seria o caso dar voz a esses atores.

Não estaria na hora de ouvirmos TAMBÉM os agricultores familiares, povos indígenas, pescadores e outras populações extrativistas nos mostrando como o aquecimento global tem afetado suas vidas, suas práticas produtivos, seus rituais tradicionais. Como tem se modificado o regime das águas, o comportamento do tempo, das plantas e dos animais a ponto de colocar em risco a segurança alimentar e sobrevivência nas comunidades?

http://www.adital.com.br/jovem/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=59751

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