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Jovem indígena de Roraima conta como era o acesso a água na sua infância na Terra Indígena de Araçá

Crianças Macuxi brincal no rio Uailan, na comunidade Uailan, que fica na reserva Raposa Serra do Sol Foto: BRUNO KELLY / REUTERS

A ÁGUA DA MINHA INFÂNCIA NO MUTAMBA

O meu nome é Taiamilly Silva dos Santos, 21 anos formada em Técnica em Agropecuária pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima/Campus Amajarí. Sou de etnia macuxi, nasci  na comunidade indígena Mutamba da Terra Indígena Araçá  no município de Amajarí. Ali foi o local onde passei a minha infância, o qual é muito importante em nossas vidas, e que fica guardada em nossa memória as lembranças. A água é essencial  para o preparo da alimentação, tomar banho e etc.

A água que usava na minha infância para beber e  preparar a comida era de um poço que ficava no quintal da casa de minha “avó Arlete” e ficava distante de minha casa. Como não havia energia naquele tempo, para esfriar a água era preciso encher uma garrafa pet e enrolar com pano, amarrar e depois molhar ou então colocar a água em um pote. Para lavar as louças e molhar as plantas de casa ,a gente acordava aproximadamente  às 5:00 horas da manhã, pegava um balde e ia para o açude carregar água. Em seguida tinha que tomar banho no lago para ir estudar e era bom porque havia disputas de quem mergulhava primeiro no lago ou quem molhava primeiro as minhas primas que estavam com frio. Quando saía da escola,  muitas das vezes ia para o lago lavar roupas e mesmo sabendo disso, ficava animada pois tinha certeza que teria brincadeiras de “manja pega”, “ ficar mais tempo com os olhos abertos dentro do lago” ou até mesmo de quem conseguir nada mais rápido de um certo ponto, isso tudo  era muito divertido.

Naquele tempo, não havia água tratada, nem ao menos água encanada, mas já sabia da importância de ela ser preservada, pois além de um bem comum e direito de todos a água é vida para o povo.