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Doce Água de minha infância

Poesia enviada por Telma Cristina Lage dos Santos, participante do nosso Processo de Formação Continuada e Multiplicadora.

Resplendor (MG) – Imagem aéra mostra a a lama no Rio Doce, na cidade Resplendor ( Fred Loureiro/ Secom ES)

A água do rio de minha infância

Era límpida e cheia de vida

Doces mineiras águas do Rio Doce

Cantadas em prosa e verso

Banhando as memórias de tantas gerações

Alvejando as roupas de tanta gente

Enrugando as mãos de quem ali se sustentava.

A água do rio da minha infância

E toda a sua bacia encantada

Foi lavada pela lama

Que desceu e matou a vida que o rio gerava

Contaminou as histórias cantadas às suas margens

Afastou as pessoas que se refaziam em sua corrida ligeira

E as empurrou para longe de sua carícia

A água do rio da minha infância 

Fez com que eu acreditasse e desejasse outras águas

Longínquas águas, faceiras também

Levaram para longe minha jornada

Para outras águas, outros cantos, outras culturas

Gotejando os impulsos de minha alma missioneira

Mas guardando no meu peito seu jeito de correr

A água da minha infância

Não é diferente da água da infância do Povo Warao

Embora tão distante e diferente

É uma água que insiste em cantar, ainda que barrenta

Como este povo andante, que não se rende

E segue como as corredeiras que desafiam as pedras

E superam as barreiras que lhe são impostas

A água da minha infância

Segue movendo os moinhos e monjolos

Derrubando as encostas desprotegidas e buscando novos caminhos

Para chegar ao beijo eterno no velho mar

Lutando para depositar nas suas curvas

O barro que lhe pesa na alma

Na esperança de voltar a ser Rio Doce.