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Seminário Nacional 2021 termina renovando o esperançar pelos direitos da Mãe Terra e contra as mudanças climáticas

Por Flaviana Serafim

Debatendo os caminhos e definindo prioridades para 2022, o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) encerrou o Seminário Nacional 2021 “Frente ao colapso civilizacional, esperançar com os povos guardiões da vida” na sexta-feira (26), após quatro dias de encontro virtual, iniciado no último dia 23 de novembro com a presença de representantes dos biomas de todo o país.

Após a acolhida inicial, foi apresentada uma síntese das propostas para 2022, seguida de plenária que apontou o que deve ser aprofundado entre as prioridades que o Fórum já assumiu quanto à informação e mobilização frente às mudanças climáticas, aos Direitos da Natureza, à desertificação e à transição energética, entre outros. Também foram deliberadas novas prioridades, tais como o posicionamento do FMCJS no processo eleitoral do próximo ano.

Para a Formação Continuada e Multiplicadora em 2022, as três principais temáticas indicadas foram: o crescimento e decrescimento num conceito de desenvolvimento a partir da perspectiva do Bem Viver; transição energética justa e popular; direitos da Natureza e dos Rios. Quanto aos eventos importantes no próximo período, a Cúpula dos Povos na Rio+30, o Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA) e o Fórum Social das Resistências.

Participantes do seminário

Resultados, avanços e desafios

Do FMCJS-RN e colaboradora do Serviço de Assistência Rural (SAR), Moema Hofstaetter foi mediadora do último dia do seminário. Ela destaca que o evento foi representativo de todo o país, e que as experiências compartilhadas na abertura contribuíram para os debates ao longo da atividade.

“É muito importante que essas organizações se encontrem em nível nacional para articular suas lutas de forma conjunta, porque juntos temos mais força. É esse o papel do Fórum, a informação, a formação, a mobilização conjunta em todas as temáticas sobre as mudanças climáticas”, afirma.

Segundo Ivo Poletto, do grupo executivo do Fórum, um dos desafios para 2022 é consolidar a capacidade do FMCJS de articular iniciativas que afirmem alternativas e caminhos comprovadamente possíveis para o convívio com a natureza e a Mãe Terra e, ao mesmo tempo, enfrentar o abandono e ameaça da política pública ambiental. Apesar da preocupação com o resultado negativo da COP-26, que marcou o início do seminário, ele avalia que as realizações e o esperançar é que nortearam o encontro virtual.

“Por isso, programamos a primeira parte abrindo espaço para apresentar trabalhos e ferramentas, produtos, cartilhas e textos produzidos durante esse ano. Creio que isso deu o tom para o seminário, por mais que tenhamos feito uma análise crítica, em seguida, em que não se fez concessão ao fracasso da COP e aos desafios que isso significa, principalmente num país como o Brasil. Saímos com um sentimento de esperança, de multiplicar iniciativas e poder avançar”, diz Poletto.

Para Tania Slongo, do núcleo FMCJS-SC, há muitas iniciativas brotando em todo o país, apesar da emergência climática, e também sanitária, com a pandemia. “O seminário traz esses diferentes olhares aos biomas, traz a resistência. Foi importante participar pelos muitos elementos, para que possamos seguir caminhando juntos, aumentando cada vez mais essa rede e divulgando mais o Fórum”.

Do Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis, Bárbara Iung avalia que o encontro foi relevante para que os diversos núcleos possam se perceber interligados.
“Dessa forma percebemos que a luta de um companheiro distante do nosso estado também é a nossa luta. Percebemos em todas as falas a questão do racismo ambiental, dos megaprojetos, das siderúrgicas. E no seminário, nesta semana que temos para ouvir e compartilhar as demandas, percebemos essa interligação, que é de lutas, de biomas, entre todos nós que estamos defendendo a Mãe Natureza”. 

Alexandre Carneiro, do Instituto Terramar, ressaltou a importância do seminário para vislumbrar que as instituições governamentais falharam em relação às mudanças do clima, e que transformar o cenário exige atuação organizada dos movimentos. “Individualmente não conseguimos, mas por redes, articulações, conseguimos fazer força frente a essas mudanças climáticas. Precisamos salvar o mundo e contamos apenas com nós mesmos. Com nossa organização, conseguiremos fazer enfrentamento à proposta que está colocada pelo grande capital, que vai nos matar, nos exterminar”, alerta.

Ainda segundo o militante, “o que sai mais forte para mim é esse anúncio de que precisamos de uma nova forma de produção de energia, de segurança e soberania alimentar, de salvar nossa Casa Comum. Essa é a mensagem que trago para mim e espero que os companheiros e companheiras também tragam essa fé de que as coisas possam mudar – e vão mudar”, conclui.

Carta pública

O Seminário Nacional 2021 foi encerrado com a leitura da carta pública “Não há outra opção: a opção é cuidar da Mãe Terra”, com posicionamento do FMCJS ao final do encontro.

No documento, o Fórum critica os resultados da COP26 e falsas soluções, como o mercado de carbono, e apresenta seus compromissos no enfrentamento às mudanças climáticas, deixando claro que a luta não é nos espaços das Cúpulas do Clima, onde os governos continuam presos às grandes corporações. “O nosso trabalho é a nossa colheita. O nosso trabalho é fora destas salas, junto ao povo”, diz o Fórum na carta pública.

A íntegra do documento será divulgado em breve pelo FMCJS