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Seminário discute o impacto das mudanças climáticas no RS

Na última sexta-feira, dia 09, aconteceu em Porto Alegre/RS o Seminário Estadual de Mudanças Climáticas, Matriz Energética e Justiça Social. O objetivo do evento foi de aprofundar conhecimento sobre como as mudanças climáticas estão afetando a vida da Mãe Terra e os seres que nela habitam, em especial no estado do Rio Grande do Sul. Também visou debater as causas e consequências destas alterações, dando visibilidade às alternativas sustentáveis e de resistência que estão sendo vividas e implementadas pelas comunidades/grupos nos diferentes territórios e comunidades.

IMG_7313O encontro foi uma iniciativa organizada pela Cáritas Brasileira – Regional do Rio Grande do Sul (Cáritas RS),Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Avesol (Centro de Referência em Direitos Humanos da Avesol), Centro de Inteligência Urbana (CIUPOA) e Defesa Civil de Porto Alegre (GADEC). Com uma abertura muito energética feita pela atriz Silvia Duarte, o evento contou com aproximadamente 90 participantes vindos de 25 municípios do RS e serviu como uma grande troca de experiências e de conhecimento.

No período da manhã expuseram conteúdos o ambientalista e agrônomo Arno Kayser, o Professor da UFRGS e pesquisador Francisco Aquino, e o assessor nacional do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS), Ivo Poletto,respectivamente, sobre a matriz energética e o modelo de desenvolvimento do RS, mudanças climáticas e impactos na região sul do Brasil e, por último, a 21ª Conferência do Clima (COP21). Kayser, entre tantas informações latentes, apresentou dados que salientam a nossa dependência do petróleo e seus derivados para produção energética, salientando ser esta a principal fonte de gases de efeitos estufa e motivo de muitas guerras, esquemas de corrupção e fortes interesses das multinacionais.

Já Aquino tem a convicção de que a ação do ser humano alterou e está alterando o clima da Terra, que se apresenta cada vez mais quente. Os desastres naturais associados ao clima, mensurados desde 1980 para cá, só aumentam e este fato está extremamente relacionado ao humor da atmosfera da Terra: “e ela anda muito mal-humorada”, afirma o pesquisador. O nível de gás carbônico atual bate recorde com números extremamente altos sobre qualquer outro nível que já existiu no nosso Planeta, mesmo em época de extinções de espécies. Analisando números de suas pesquisas somados ao que está acontecendo no macro-ambiente, Aquino conclui que “o cenário é pior do que o previsto”. Lembrou ainda dos últimos desastres que aconteceram este ano no RS – como o tornado em Porto Alegre e outro na região das missões – e prevê tempestades maiores e mais intensas na região sul do país.

Para Poletto está mais do que claro que temos um problema a enfrentar. Ele apresentou alguns relatos sobre a COP21, e questiona o porquê, somente agora, depois de 21 Conferências Internacionais e 40 mil pessoas mobilizadas em cada uma delas, se chegou ao primeiro acordo possível de colocar em prática – o Acordo de Paris –, mas que, no entanto, não estabelece prazos para o cumprimento das metas nele definidas: “o Acordo agora tem reconhecimento, coloca meta de desejo, mas não tem prazo! Deveria ter uma ação que todos assumissem juntos e com datas de execução, é a lógica! E no documento não está assim”, afirma o assessor. Por outro lado, ele diz que o Acordo, diferentemente de publicações como as do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), foi capaz de acabar com a polêmica internacional de que a mudança climática não está acontecendo; pelo contrário, este fato foi politicamente reconhecido e aceito pelos 190 países presentes no encontro chegando à conclusão que estamos frente a um grave desafio planetário, em processo de aquecimento constante e que a humanidade como um todo precisa enfrentar.

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Ivo Poletto relata o que foi trabalhado na COP21 e que o Acordo da França, firmado no evento, foi capaz de acabar com a polêmica internacional de que a mudança climática não está acontecendo

 

O turno da tarde começou com apresentação do grupo Tambor falante, um coletivo de percussão formado por adolescentes e jovens de Viamão que criam instrumentos a partir de sucatas. Na sequência deu-se início a uma roda de conversas debatendo a relação entre direitos sociais e direitos ambientais por representantes de grupos/comunidades que estão criando alternativas locais sustentáveis. O “Direito da Mãe Terra”, como apontou Poletto, foi abordado sob diferentes perspectivas por Marília (assentada e articuladora de projetos sustentáveis em escolas de sua região), Marcos (pecuarista familiar da região sudeste do estado), Antonio Braga do MST (Cruz Alta), Sr. Dorvalino (indígena kaingang de São Leopoldo), Nilo Dias (Quilombo do Algodão em Pelotas) e o Sr. Daniel Soares (representando povo do terreiro).

Este momento profundamente rico; evidenciou que o modelo de desenvolvimentista não respeita o ser humano nem a ecobiodiversidade. Na lógica capitalista e rentista não cabem os direitos, as tradições e as culturas dos povos e comunidades. Mas são exatamente estes aspectos que fazem com que os diferentes coletivos ali representados resistam, lutem e criem alternativas de cuidado, preservação e respeito ao outro, ao planeta, aos ancestrais, às futuras gerações, às identidades… A roda de conversa concluiu seu momento envolvendo à todos num círculo de dança e afetividade, tão necessários ao bem-viver, cantando ao som do berimbau: abraça eu Mamãe, embala eu Mamãe, cuida de mim!

Ao final do dia, foi a vez de Marcel Ribeiro da Cáritas de Umuarama (Paraná) e representante do movimento 350.org Brasil (NO Fracking Brasil) apresentar para o grupo a grande ameaça que é a extração do gás de xisto e as suas consequências avassaladoras e irreversíveis para o Planeta Terra, como, por exemplo, deixar o solo improdutivo ao entorno de suas bases em um raio de até 80 km de suas bases, poluir as águas e o ar, provocar terremotos, entre tantos outros. Fracking consiste na perfuração profunda do solo para inserir uma tubulação por onde é injetada, sob altíssima pressão, 30 milhões de litros de água, areia e mais de 700 produtos químicos tóxicos e cancerígenos para fraturar a rocha e liberar o gás do xisto (shale gas).

Países como Alemanha, França, Bulgária (entre outros) já proibiram o Fracking. Nos Estados Unidos é uma prática aceita e as consequências têm sido muito aparentes: para termos ideia, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, em 2009 houve 20 tremores de magnitude 3,0 ou superior, de acordo com o Serviço Geológico; no ano passado, foram 890. O último aconteceu no início de setembro deste ano, com a magnitude de 5,6 graus.

No Brasil, alguns municípios já proibiram; outros ainda estão totalmente desprotegidos, e entre eles está o Rio Grande do Sul – fato que deve ser muito alarmante para a população da região, pois a ação da indústria do fracking acontece de maneira muito silenciosa e tem apoio do governo federal. Além disso, o país vizinho ao estado, Argentina, também já está fazendo uso da técnica que num futuro próximo também pode ocasionar terremotos e trazer outras consequências a todo o bioma da região.

Foi unânime a opinião dos presentes no Seminário, desde o agricultor familiar, indígena, quilombola, camponês, passando pelos representantes das entidades presentes até os estudiosos da temática, que existe um grande desafio a ser enfrentado por todos. Como ressaltou Poletto, é necessário reavaliarmos o que realmente significa o termo desenvolvimento econômico para a humanidade. Segundo os dados apresentados e relatos do IPCC o recado é que vamos ter que mudar o nosso sistema que vivemos, o modo que consumimos, pois, como diz o lema do movimento do Grito dos Excluídos deste ano, “este sistema é insuportável: exclui, degrada e mata!”. Com as entidades presentes ficou o papel de levar este tipo de conhecimento também para o interior do estado, de maneira descentralizada, focando não somente na capital gaúcha.

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Momento rico de troca de experiências e debate dos “direitos da terra” por representantes de grupos/comunidades que estão criando alternativas locais sustentáveis

 

Por fim, uma última grande mensagem foi a de que “está tudo interligado: a iniciativa deve ser local, mas devemos enxergar o Planeta como um todo”, afirmou o pesquisador e Prof. Francisco Aquino. Assim, foi ressaltado a importância da Encíclica Laudato Si – Sobre o cuidado da Casa Comum – onde Papa Francisco deu uma mensagem extraciência mas amparada na ciência, mandando uma mensagem de cuidado e ação frente ao Planeta Terra para qualquer cidadão do mundo, independente de sua crença.

Fonte: Aline Gallo/Cáritas RS

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