Especialistas discutem sobre mudanças climáticas na Amazônia
No dia 14 de novembro, durante o último grupo temático do Fórum Social Panamazônico – Fospa, intitulado “Mudanças Climáticas e Amazônia”, especialistas de 76 organizações debateram sobre como os efeitos das mudanças climáticas estão afetando a Amazônia e as possibilidades de ação frente às mudanças. No encontro, ficou clara a necessidade de visibilizar as iniciativas de enfrentamento ao aquecimento global dentro das comunidades, de investir em agroecologia para garantir a soberania e segurança alimentar dos povos amazônicos e de se discutir a relação entre diversidade biológica e as mudanças climáticas.
Além disso, os participantes falaram sobre as ameaças ao ecossistema amazônico, como a extração de petróleo, a contaminação das águas pelas grandes mineradoras, o agronegócio, as grandes hidrelétricas, apresentadas como falsas soluções, e o aumento dos incêndios e desmatamento para manter um modelo de desenvolvimento incompatível com a vida não só na Amazônia, mas em todo o planeta.
Osver Carrasco, do Movimento Cidadão Contra Mudanças Climática (MOCICC – Peru), demonstrou sua preocupação com os governos que estão aumentando o desmatamento, com a mercantilização e penetração do grande capital na Amazônia e da imposição de projetos petroleiros sem consultar as comunidades.
Ainda ao tratar sobre as ameaças, Iremar Ferreira, membro da coordenação do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, lembrou da situação do povo do Amapá, que está sem luz há 12 dias. “A situação é dramática e, lamentavelmente, se reproduzirá em outras regiões da Amazônia com a escalada de privatizações do governo Bolsonaro”, alerta a moção de solidariedade ao povo do Amapá apresentada por Ferreira.
Antonio Zambrano, moderador do debate e representante do MOCICC (Peru), lembrou da importância ecossistêmica da Amazônia para o planeta e do reconhecimento dos direitos territoriais como mecanismo de resiliência para se pensar no futuro da região. “Considero urgente estabelecer vínculos e configurar estratégias, um plano de ações conjuntas para estes países”.
Jhon Dario e Mary James, representantes da Colômbia relataram suas iniciativas junto às comunidades campesinas, como a da agroecologia para garantir a segurança alimentar da bacia Amazônia. Dario sugeriu, além do cultivo agroflorestal, a criação de uma lei que impeça a chegada de lixos não recicláveis nos territórios amazônicos. “Estamos trabalhando para que a Amazônia seja vista como algo importante não só para os que moram longe, mas para os que moram aqui”, afirmou James.
Neste sentido, Ivo Poletto, membro do grupo executivo do FMCJS, ao cobrar responsabilidades a nível internacional pelas mudanças climáticas, lembrou que a “a Amazônia não é importante só para a Amazônia, ela é importante para todo o planeta e, em particular, para toda a América do Sul, é necessário que se tenha presente que o que mais provoca mudanças climáticas não é só o que estão fazendo na Amazônia, e sim em outras regiões do planeta”.
Tania Ricaldi, do Grupo de Trabalho sobre Mudanças Climáticas e Justiça – GTCCJ (Bolívia) acrescentou: “devemos exigir dos governos que gerem compromissos amazônicos, o de preservar a Amazônia como território determinante para a manutenção da vida global”.
Plenária – Encontro de Iniciativas de Ação
Na plenária para sintetizar os resultados do dia, outros temas surgiram: a racialização e invisibilidade do negro na Amazônia; o mapeamento dos conflitos da região; justiça fiscal; e a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento antipatriarcal e anticapitalista; impactos das empresas financeiras.
Germán Niño, um dos organizadores do evento, comentou: “Temos processos vivos e integrados no Fospa, além de termos a necessidade de realizar processos de integração, de criar uma agenda integral adequada às problemáticas da região.” Para Niño, há um olhar muito crítico ao modelo de desenvolvimento colonialista, patriarcal e autoritário. “Temos que transformá-lo. O modelo atual mata. Não somos fonte de recursos primários, somos um lugar de soluções inovadoras e criativas”, concluiu ao encerrar o evento.
Fonte: Equipe de Comunicação FMCJS