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Austrália está enfrentando mais extremos de calor e riscos de incêndio

Austrália está enfrentando mais extremos de calor e riscos de incêndio, alerta estudo

05/03/2014   –   Autor: Jéssica Lipinski   –   Fonte: Instituto CarbonoBrasil

Austrália é um país já conhecido pelo seu clima quente e desértico e sua temporada de incêndios, mas, ao que tudo indica, essas situações tendem a se tornar ainda mais extremas.

Uma nova pesquisa do Escritório de Meteorologia australiano e da Organização de Pesquisa da Comunidade Científica e Industrial da Austrália (CSIRO) afirma que o país está apresentando temperaturas quase um grau mais quentes do que há 100 anos, o que está levando a um aumento no número de dias de calor extremo e de dias com risco de incêndio.

Segundo o State of the Climate 2014 (Estado do Clima 2014), lançado a cada dois anos com o objetivo de “resumir” as condições climáticas australianas, a temperatura média da nação aumentou 0,9ºC desde 1910, e deve se elevar mais 0,6ºC a 1,5ºC até 2030 em relação à média de 1980 a 1999.

Isso tem feito com que, desde 1950, as ondas de calor tenham se tornado mais duradouras, intensas e tenham ocorrido com mais frequência na maior parte do país. A Austrália também tem registrado mais dias de calor extremo. Por exemplo, quando os registros australianos começaram, em 1910, levou 31 anos para que o país registrasse 28 dias quentes o suficiente para ficarem entre o 1% mais quente. Contudo, só em 2013, o país registrou o mesmo número de dias quentes extremos.

O relatório também diz que sete dos dez anos mais quentes da Austrália ocorreram desde 1998. Além disso, nos últimos 15 anos, meses “muito quentes” estão ocorrendo numa frequência cinco vezes maior do que entre 1951 e 1980.

Para piorar, atualmente há 33% menos meses frios do que no passado, e o relatório aponta que desde 2001 há três dias em que recordes de calor são quebrados para cada dia em que um recorde de frio é quebrado. As noites também estão aquecendo rapidamente, e, para cada recorde de temperatura mínima registrado à noite, cinco recordes de temperatura máxima são registrados no mesmo período do dia.

Tudo isso porque, de acordo com o relatório, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera atingiu o maior nível em dois milhões de anos, e nos últimos dois anos chegou ao maior nível já observado desde que os registros começaram.

Com isso, as estimativas são de que os extremos climáticos se intensifiquem ainda mais. O relatório sugere que, à medida que as emissões de gases do efeito estufa continuarem a subir, as temperaturas também devem aumentar.

É provável que o país vivencie uma elevação nas temperaturas de 2,2ºC a 5ºC até 2050 em relação às últimas décadas, e projeções mais pessimistas indicam um aumento de até 6ºC na temperatura. “Acreditamos que haverá uma continuação do aquecimento e provavelmente uma aceleração nas próximas décadas”, observou Penny Whetton, especialista em projeções climáticas da CSIRO.

Os índices de precipitação também devem mudar. O relatório indica que, desde a metade da década de 1990, as chuvas no sudeste da Austrália diminuíram 25% em abril e maio e 15% no período do final do outono e início do inverno (aproximadamente entre junho e julho).

Já o sudoeste da Austrália, que é a principal fonte de exportação de trigo do país, tem apresentado uma queda média na precipitação de 17% desde 1970, enquanto que o escoamento da água para rios na região caiu em mais da metade.

Dependendo das emissões de carbono, a chuva no sul pode diminuir em 30% até 2070, com as maiores reduções ocorrendo durante o inverno e a primavera, quando acontece o principal período de safras no país.

“As secas devem se tornar mais frequentes e severas no sul da Austrália. Certamente as mudanças no clima que precisarão ser consideradas pelos agricultores provavelmente serão maiores nas próximas décadas do que o que temos visto nas últimas décadas”, explicou Whetton.

Também por consequência desses fenômenos, devem aumentar as temporadas de risco de incêndio, que serão ainda mais perigosas. Das 38 estações de medição de risco de incêndios, o relatório mostrou que, entre 1973 e 2010, houve estatisticamente um aumento significativo no número de dias de risco de incêndio em 16 localidades.

Além disso, os piores dias de risco de incêndio se tornaram mais extremos em 24 das 38 estações. “Esse aquecimento faz a Austrália vivenciar um clima mais quente e extremos de calor, e menos extremos de frio. Tem havido um aumento no clima propenso a incêndios, e uma temporada de incêndios mais longa, em grandes partes da Austrália”, diz o relatório.

Infelizmente, o país não está trabalhando para desenvolver políticas para conter essas mudanças climáticas. De fato, um estudo recente apontou que o país é um dos que retrocedeu em suas leis nesse sentido.

Tony Abbott, o atual primeiro-ministro, já negou diversas vezes a existência das mudanças climáticas, e uma de suas primeiras ações após eleito foi iniciar o processo para acabar com a taxa de carbono, que há dois anos obriga as indústrias mais poluentes a pagarem se emitirem acima de um limite fixado pelo governo. Uma decisão sobre o assunto deve acontecer em julho.

O país tem ainda planos de expandir as exportações de carvão e gás natural, aumentando  mais as emissões per capita. “A nova atitude da Austrália pode reverter importantes avanços legislativos na luta global contra as mudanças climáticas”, salientou John Gummer, presidente da GLOBE International, que desenvolveu pesquisa legislativa.

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