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Encontro identifica focos de injustiça socioambiental no Sudeste

Entre os dias 16 e 17 de setembro, na capital do Rio de Janeiro, acontece o Encontro Regional Sudeste do Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS). O tema principal trata das formas como as ameaças e conflitos socioambientais têm se manifestado nos diferentes territórios da região. Assim, o primeiro dia foi dedicado à identificação dessas violações de direitos em cada área. A tarefa dividiu os cerca de 80 participantes em grupos por estado para localizar as ameaças e desafios nos mapas de São Paulo, Rio, Minas Gerais e Espírito Santo. Visualizando os diferentes focos de injustiça socioambiental, a ideia foi estimular os movimentos a pensar em como integrar suas lutas e causas em escala regional, a partir da identificação de questões e aliados que têm em comum.

Foto: Francisco Vladimir
Participantes do Encontro Regional. Foto: Francisco Vladimir

Os grupos detectaram rapidamente que suas áreas têm sofrido impactos variados de uma mesma questão: a da água, de sua qualidade e do direito ao uso. O recurso é sistematicamente restringido a comunidades e populações inteiras em benefício de indústrias, as grandes consumidoras.

Nilmário Rocha, do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), representou o grupo do Espírito Santo. Ele falou das principais questões e desafios socioambientais do estado para os demais participantes, destacando que o conflito pela água tende a se radicalizar diante de uma das maiores crises hídricas da história.

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“Tem água em alguns lugares. Mas água pra quem? Para a Aracruz com sua monocultura de eucalipto parece ter, já para os pequenos agricultores, para os quilombolas, é mais difícil. Isso faz ainda com que haja perfuração desenfreada de poços artesianos, onde quem tem mais dinheiro pode furar mais pontos e com mais profundidade”, conta. A água – alerta Nilmário – só encabeça a lista de questões que também tem os conflitos entre comunidades rurais e latifundiários; exploração de rochas ornamentais, recursos não renováveis; e a criminalização do ativismo de base.

Guillermo Denaro, do Jubileu Sul, representou o grupo de São Paulo, reafirmando a centralidade do problema da água. “Hoje temos indígenas e quilombolas resistindo à privatização dos 25 parques estaduais, que no fim é uma busca por água para abastecer principalmente a Grande São Paulo”, diz. Delnaro conta que o monocultivo de eucalipto forma verdadeiros “desertos verdes” e que os herbicidas usados nesse tipo de cultura, durante as chuvas, contaminam as águas do rio Paraíba do Sul que, por sua vez, abastece a 80% da Região Metropolitana de outro estado, o Rio de Janeiro.

Em Minas Gerais, o monocultivo do eucalipto também vem deixando sequelas socioambientais graves. É o que observou Lucimere Leão, da Cáritas, acrescentando outras informações à questão da água. “Como se trata de um estado que tem um potencial hídrico muito grande, temos as barragens e também a poluição tanto dos agrotóxicos como de outras fontes. Isso sem falar que fomos atingidos pelo crime da Samarco, com os afluentes do Rio Doce, hoje, bastante poluídos”, ressalta.

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Participantes produziram o mapa dos conflitos socioambientais da região.

Associado aos grandes eventos e empreendimentos, no estado do Rio de Janeiro nada além da capital tem visibilidade. “É como se, por exemplo, o campo não existisse no Rio”, disse uma participante do grupo RJ. A apresentação dos conflitos e desafios socioambientais do estado foi feita por Priscila Viana Alves, da Comissão Pastoral da Terra. “No Rio além da ameaça de privatização da Cedae [Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro], há no norte e noroeste a salinização da água e expulsão de pequenos agricultores por ameaças de grupos com grande poder financeiro. Nas secas não há política pública que apoie o pequeno agricultor. Na região Serrana uma verdadeira crise na habitação. Na Baixada Fluminense, o racismo ambiental levou durante muito tempo o lixo do município do Rio para lá. E como nos outros estados, a insegurança fundiária de comunidades tradicionais como as indígenas, quilombolas e caiçaras tem se aprofundado”, finalizou.

Depois da identificação dos conflitos e ameaças, os grupos se desfizeram e assistiram à palestra do professor Alexandre Costa, da UECE e do movimento Ceará no Clima. Ele falou de como as agressões socioambientais identificadas pelos participantes têm contribuído para criação de um ambiente cada vez menos compatível com a vida como a conhecemos hoje.

“Quem não tem a vivência da defesa de quilombolas e indígenas, como vimos hoje, vai ter que aprender. Porque esse paradigma de construir ‘Belos Montes’ para financiar a educação ou o que quer que seja tem que ficar para trás. Para termos uma ideia, se desaparecêssemos por um passe de mágica, deixaríamos pegadas irreversíveis. Mudamos a quantidade de CO2 na atmosfera. É uma mudança quase tão rápida quanto o impacto de um asteroide. Mas nós somos o asteroide”, disse.

Após discutirem alguns dos pontos levantados por Costa, os participantes novamente se dividiram em grupos – desta vez sem o critério de origem por estado – e se concentraram em traçar estratégias para integrar e fortalecer suas lutas.

Encontro Regional Sudeste do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social
Data: 16 a 17 de setembro de 2016
Horário: Abertura às 8h30 (16/09) e encerramento às 16h (17/09).
Local: Congregação das Religiosas da Assunção de Nossa Senhora – Rua Almirante Alexandrino, 2023 – Santa Teresa.

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