Acordo Mercosul e União Européia
O FMCJS está assumindo e divulgando dois textos de análise crítica sobre o processo que visa a assinatura do Acordo Mercosul e União Européia, que seguem em anexo, publicados pelas entidades internacionais parceiras MISEREOR, Greenpeace Alemanha, Dreikönigskation-Hilfswerk der Katholischen Jungschar (DKA), CIDSE – aliança internacional de organizações católicas de justiça social e desenvolvimento – e pela FASE e Greenpeace do Brasil.
Quem vive e atua no Brasil sente a necessidade de pergunta-se sobre o que teria levado o governo federal, que sempre mostrou desprezo pelo Mercosul e por todas as relações com os países da região, a mudar sua posição e estar empenhado na aprovação do Acordo com a União Européia.
Em particular, depois das últimas eleições na Argentina, com a derrota do aliado Macri, o Mercosul foi ainda mais deixado de lado, como se fosse perda de tempo, ocupando-se apenas com a estratégia de relações exclusivas com os Estados Unidos. Para o governo brasileiro, a Argentina teria retomado o caminho do socialismo, e mais ainda a Bolívia.
Por isso, teria sido uma “ordem” do governo Tramp o que provocou essa mudança de posição? Não parece algo lógico, tendo presente que a Europa é concorrente no mercado mundial, e seu avanço na relação com países da América do Sul significaria risco até de perda do tradicional mando norte-americano. E não sendo por ordem de Tramp, de quem viria a ordem para esse governo claramente estruturado para favorecer relações neocoloniais?
Esse Acordo com a União Européia teria algo em comum com a ALCA, inviabilizada pela mobilização cidadã no início do milênio? Com certeza. Mudam os protagonistas políticos, mas não os objetivos. Os verdadeiros interessados na ALCA já eram as empresas de capital financeiro, desejosas de contarem com leis e sistema judicial livres das leis nacionais para atuarem no mercado globalizado, e agora, essas mesmas empresas estão muito mais articuladas e com poder muito maior para buscar seus interesses – como constata Ladislau Dawbor em seu livro A era do capital improdutivo – A nova arquitetura do poder, sob dominação financeira, sequestro da democracia e destruição do planeta (São Paulo: Outras Palavras & Autonomia Literária, 2018).
Não há nenhuma chance de que este Acordo seja favorável aos povos e aos biomas da Mãe Terra nos territórios do Mercosul. Por parte dos países da Europa, sua aprovação será um aval à dominação mundial do capital financeiro, que já conta com a subserviência da maioria dos governos do Mercosul, com destaque para a política ultraliberal do governo brasileiro, em que não há lugar para a defesa dos direitos das pessoas e da natureza. Por isso, tudo que puder ser feito para inviabilizar sua aprovação, será benéfico para os povos e para a toda a comunidade da vida da região.
Ivo Poletto – do Grupo Executivo do FMCJS
Acordo Mercosul União Europeia
Ameaça para a proteção do clima e direitos humanos
https://fase.org.br/wp-content/uploads/2020/10/Brochure_EU-MERCOSUR_PT_2010_final.pdf
10 exemplos nada exemplares do Acordo Mercosul União Europeia
https://fase.org.br/wp-content/uploads/2020/10/10-exemplos-nada-exemplares_INFOGRAFICO.pdf