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A Mãe Terra pede Socorro

O FMCJS disponibiliza uma série de materiais para mobilização, educação e comunicação.

As formas de produção, consumo, estilo de vida e relação com a natureza que a humanidade, de forma prioritária, tem praticado, colocam em risco os fundamentos da vida e da sustentabilidade do planeta. As mudanças climáticas, o aquecimento global, as tempestades de areia e as grandes enchentes que rotineiramente temos visto são alguns dos fenômenos que nos alertam para a necessidade de mudanças na maneira como nos relacionamos com a Natureza Criadora, a Mãe terra e colocam na agenda global, em caráter de urgência, a discussão sobre novos modos de geração e consumo de energia.

À luz dessas questões, que nos interpelam e exigem um novo caminhar pautado por formas alternativas de desenvolvimento, e mais ainda, de uma nova relação com a natureza, assumindo-a como Sujeito de direitos, o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) e Entidades Parceiras realizaram, na Semana do meio Ambiente (entre os dias de 31 de maio a 7 de junho de 2022), uma importante intervenção nas redes sociais. Com o Título “A Mãe Terra pede Socorro”, o conjunto de ações contribuiu com essa reflexão e fez coro com as demais iniciativas que ocorreram naquela semana.

A mobilização aconteceu em torno da ideia central expressa no título da ação: “A Mãe Terra pede Socorro”. É preciso, e com urgência, acudir o planeta, para que a vida em toda a sua plenitude seja preservada. Durante toda semana foram ao ar postagens com artes e textos ressaltando a beleza e importância de cada Bioma, bem como a urgência de cuidar da Mãe Terra. Nas palavras motivadoras do próprio Fórum: “A Semana do Meio Ambiente, que nós queremos que seja, de fato, do ambiente favorável, ou melhor, dos ambientes favoráveis à vida em cada bioma: da Caatinga, da Zona Costeira, da Mata Atlântica, do Pampa, do Pantanal, do Cerrado e da Amazônia – este é nosso desejo e a razão de nossas lutas contra todas as ameaças que agridem cada berço e fonte de vida.

No dia 4 de julho foi realizado o ato principal desta mobilização. Uma “live” que contou com a participação de diversos agentes representantes de movimentos sociais, entidades e ong’s de luta acerca de toda a temática abordada. A “live” do dia 4 de junho contou com a mediação de Rafaela Dornelas e foi aberta com a poesia de Lira Alli:

“Segura sua mão na minha

Para fazermos juntos

O que eu não posso fazer sozinho

Porque quem tem um sonho

E coragem pra caminhar

Com a força das mãos dadas

Pode muito mais do que sonhar.

(…)”

Gentileza, gera gentileza.” Inspirado no texto do poeta Gentileza, que desde dos anos 80, se tornou conhecido por escrever poesias em pilastras, no Rio de Janeiro, Ivo Poletto, assessor nacional do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, trouxe a reflexão de que a Terra, que tudo gera e com gentileza, tudo nos doa, deve ser retribuída. Nós humanos devemos ter a mesma gentileza em cuidar e cooperar com as diversas formas de Vida em Nossa Casa Comum.

Todos os Biomas foram representados durante a “live”. Cada representante trouxe em suas palavras um pouco da beleza e da realidade de seu bioma, ressaltando a necessidade da atuação coletiva em sua preservação. Todas estas manifestações podem ser revistas pelo link da “live”:

#live – A Mãe Terra pede Socorro!

Neste encontro virtual tivemos a apresentação de diversos materiais desenvolvidos no decorrer do ano de 2021 pelo FMCJS e Entidades parceiras. O objetivo é o de informar, sensibilizar e assessorar a todos que buscam por estes conhecimentos. São conteúdos que abordam temas como matriz energética, desertificação, mudanças climáticas, territorialidade, luta das mulheres e direitos da natureza.

O tema da desertificação foi abordado por Cicero Felix, assessor do IRPAA, que ressaltou: “Precisamos abandonar a ideia de que desertificação ocorre apenas na Caatinga. Hoje, ela é um problema a ser enfrentado em todos os Biomas Brasileiros”. Ele apresentou a cartilha: Convivendo na Casa Comum – Discutindo sobre o Combate à Desertificação. A publicação é resultado de uma construção coletiva não só na elaboração dos textos, mas resultado de um levantamento que ouviu comunidades de todos os biomas brasileiros. Ela traz a realidade da desertificação e degradação de cada Bioma, identifica as causas e os responsáveis por esse processo e, por fim, apresenta o trabalho de organizações e instituições que estão atuando para reverter esse problema.

Cicero Felix apresentou também o filme “Brasil, desertificação e biomas”, que faz um panorama sobre a situação da desertificação no Brasil e a especificidade de cada Bioma. O filme contou com a fala de especialistas, estudiosos e ativistas participantes de institutos e organizações que atuam em prol do meio ambiente. O filme foi produzido pelo Coletivo Crescente durante a Pandemia de Covid-19, com gravação remota e utilização de acervo das entidades parceiras.

Fruto de um seminário promovido pelo FMCJS, a Articulação pelos Direitos da Natureza nasceu na perspectiva de trazer o tema dos “Direitos da Natureza” para o centro do debate público das pautas ambientais.  Marline Dassoler, do CIMI, contextualizou a Articulação: “A Articulação nasce com o intuito de informar e sensibilizar as pessoas sobre os Direitos da Natureza, para assim poderem se unir a esta luta que é tão importante e necessária.” Como parte da produção da Articulação, Marline apresentou o livro Direitos da Natureza – Mãe Terra, marco para a construção de uma teoria geral. Explicou que o livro traz relatos de casos nacionais e internacionais que fundamentam o entendimento da Natureza como “sujeito de direitos”, além de questões essenciais para que esse novo marco jurídico seja assumido pela legislação brasileira.

Na mesma oportunidade, Marline apresentou também a cartilha “Cartilha Vida em Harmonia – Direitos da Natureza”. Com textos curtos, ilustrações, mitologia e a voz dos que estão nos diferentes biomas brasileiros, traz a perspectiva dos povos indígenas, quilombolas, camponeses e comunidades tradicionais para apresentar a natureza como sujeito de direitos e apontar de que forma a lei pode promover o retorno de uma vida em harmonia. E a cartilha Manifesto dos peixes pela vida, que é fruto do diálogo de Iremar Ferreira (artista/escritor/ativista) e os peixes do Rio Madeira. De forma poética, e com belas ilustrações, a cartilha estende o reconhecimento dos direitos dos rios, peixes e natureza, florestas e seus habitantes.

A transição energética para um modelo que seja justo, popular e solidário é um dos pilares para o futuro da humanidade no planeta terra. É urgente rever a nossa matriz energética e buscar soluções alternativas. Nesse sentido, Joilson Costa, da Coordenação da Frente para uma Nova Política Energética para o Brasil, apresentou a publicação Sociedade e Energia  – Construindo a transição energética de e para as pessoas e comunidades. Casos: Brasil, Peru e Bolívia que apresenta a realidade das matrizes energética dos três países, os principais impactos sociais e ambientais dos processos de geração de energia, revela por meio de uma pesquisa como as pessoas percebem o tema energia em suas realidades cotidianas, aborda quais são os paradigmas e quais as rotas alternativas na geração de energia, e debate sobre quais elementos importantes para a transição energética de e para os povos. Joilson afirmou: “O livro convoca para que todos somem esforços para construir e disseminar a narrativa de uma transição energética diferente da que a gente observa hoje. É uma mudança de fonte, de matriz. Infelizmente as fontes que usamos hoje vem causando muitas injustiças e muitos danos socioambientais.”

O respeito aos territórios, saberes, povos, gênero, ancestralidade é central na condução de todo o processo do pensar o meio ambiente justo, popular e solidário. Com a produção do Instituto TerraMar e apoio do FMCJS, a animação Vovó Ventania  aborda um pouco de todos esses temas. A animação é composta por 4 episódios e reflete sobre o racismo ambiental, ancestralidade, modos de vida e a chegada da indústria eólica no litoral brasileiro. Na mesma linha temática, foi apresentado o filme Mulheres e Territórios – Mapeando conflitos, afetos e resistências, produzido pela ONG PACS. O filme debate sobre os impactos dos megaprojetos de engenharia na vida das mulheres da cidade e do campo, reflete os modos como estas podem organizar suas forças e modos de resistência e revela o protagonismo das mulheres nas lutas contra o sistema capitalista patriarcal e a criação das redes de cuidados entre elas para enfrentar todos os desafios.

Todo o material está disponível no site e redes sociais do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, e espera-se que ajudem a aprofundar o debate de todos os temas abordados e assessorar didaticamente processos de formação e de tomadas de decisão.

Entre os dias 28 e 31 julho, período em que estaremos participando ativamente do 10º Fórum Social Panamazônico – FOSPA, em Belém-PA, presencial ou através das redes sociais, a divulgação e estudo de todo esse material se torna estratégico, pois ele cumprirá o propósito para o qual foi elaborado, que é o de colaborar com a reflexão crítica, enriquecer as decisões e construir novas alternativas para a vida no planeta.

O mote da campanha da Semana do Meio Ambiente continua ativo e a nossa participação e tomada de decisões no sentido de garantir um futuro com vida plena é cada vez mais urgente.