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Polinizadores da esperança

Os diversos setores da sociedade, com exceção dos grupos negacionistas, chegaram ao consenso cada vez mais evidente de que não estamos tratando adequadamente o nosso planeta. Ao contrário, estamos destruindo o meio ambiente, através da poluição, do desmatamento, das queimadas, da produção desenfreada de resíduos e da manutenção de um modelo de desenvolvimento mortífero, que se expressa numa economia produtora de desigualdades, pobreza e desalento. Como não existimos sem o meio ambiente, estamos preparando as condições para a nossa própria extinção.

O governo brasileiro tem contribuído eficientemente para que este projeto de morte seja concretizado. O atual governo tem desmontado os órgãos de fiscalização ambiental, buscando facilitar a ação devastadora em todos os níveis e instâncias. Ministros e outras autoridades do governo têm se envolvido em crimes ambientais e sanitários.

Neste governo, os investimentos em pesquisas que buscam evidenciar as nossas práticas predatórias têm sido desestimulados. Ações que buscam mostrar a nossa negligência ambiental têm sido desqualificadas e seus agentes caluniados. Meios de comunicação que procuram mostrar a verdade são perseguidos e diminuídos na sua importante missão de informar a população.

Felizmente, a vida resiste, procurando formas de sobrevivência e mobilizando as suas incontáveis potencialidades. Enfrentando as políticas mortíferas que ganham força no atual governo, a vida não se rende, mas busca acontecer, germinando, muitas das vezes, em contextos desfavoráveis. Organizações e associações buscam fazer eco ao clamor da vida, que pede ajuda. Ambientalistas, pesquisadores, movimentos sociais, comunicadores e comunidades criam alternativas para que a vida floresça. Aprendendo com a natureza, elas são polinizadores de esperança.

Lutando contra o atual governo da morte e contra as políticas implementadas por ele, essas iniciativas buscam superar o pessimismo, acreditando que ainda é possível fazer algo pelo planeta e pela vida. Nesse sentido, o Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação Social – SARES – inaugura no próximo mês de agosto o Curso de Polinizadores da Ecologia Integral.

O SARES oferece um curso de extensão que é realizado em parceria com a Cátedra da UNESCO e Instituto Humanitas da Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA, e também com o Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental – FMCJS.

O Curso de Polinizadores tem como objetivo geral aprofundar o conhecimento das questões socioambientais, estabelecendo relações entre temas interligados com o princípio central da Defesa da vida e Justiça Socioambiental, promovendo o compromisso com a Amazônia. Pessoas interessadas em colaborar com a preservação da Amazônia frente aos ataques negacionistas reforçam neste espaço de aprendizagem as suas convicções a respeito da necessidade de se cuidar da nossa Casa Comum, o planeta Terra.

Os Polinizadores querem um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável, que priorize a justiça social e a preservação ambiental, pois creem que estas não constituem esferas separadas da realidade, mas unidas de tal forma que a violência causada ao ser humano se manifesta também na agressão à natureza e vice-versa. Respeitando os povos tradicionais e aprendendo com eles, os Polinizadores buscam espalhar a esperança e incentivar novas práticas econômicas e solidárias para além do capitalismo individualista e devastador.

Trata-se de mais uma das múltiplas iniciativas presentes na Amazônia, mas que não têm oportunidades de se desenvolverem, uma vez que a economia dominante não permite nenhum tipo de concorrência. São iniciativas prenhes de esperança que precisam ser divulgadas a fim que as redes socioambientais sejam fortalecidas, estimulando as transformações necessárias para termos uma sociedade melhor para todos.

O mencionado curso é um incentivo a todos os que se preocupam com a qualidade de vida nas cidades, nos campos e nas florestas. Trata-se de um convite a todos para aceitarem o desafio de serem polinizadores da esperança em um tempo tão desfavorável como o nosso. Inspirados no paradigma do Bem-Viver – Sumak  Kawsay – busca-se pensar propostas de sociedades sustentáveis, visto que o governo de plantão não apresenta nenhuma que mereça ser apoiada pela população em geral.

A luta pelo Bem-Viver faz parte de uma ampla aliança pela preservação da vida no planeta terra, preconizando a convivência harmônica entre cosmos, natureza e humanidade. Concretamente, os Polinizadores anseiam por construir uma sociedade justa, diversa, plurinacional e intercultural, onde se garanta os direitos fundamentais dos cidadãos, respeitando os limites do planeta em uma intensa relação de aprendizagem.

O Curso de Polinizadores propõe o redirecionamento dos recursos do Estado para educação, saúde e pesquisa. Advoga-se a democratização do acesso à água e terra, além da distribuição justa das riquezas socialmente produzidas. Trata-se de acreditar que “outro mundo é possível”.  Para isso, no entanto, é necessário modificar o nosso olhar e posturas frente à realidade socioambiental, não admitindo a prevalência de governos descomprometidos, corruptos e omissos frente às necessidades das populações.

Artigo de Sandoval Alves Rocha, publicado originalmente no portal Amazonas atual.