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Para salvar o planeta, temos que salvar a Amazônia

Seminário do Bioma Amazônico, no Centro de Formação Maromba em Manaus
(Foto: Sonia Cifuentes)

O Seminário do Bioma Amazônico terminou com uma conclusão firme: Para salvar o planeta, temos que salvar a Amazônia. Ativistas, movimentos sociais, entidades eclesiais e povos indígenas estiveram reunidos entre os dias 23 e 26 de outubro em Manaus para avaliar as agressões que o Bioma Amazônia sofre, buscar práticas de preservação e estabelecer compromissos para o futuro com o objetivo de salvar a Amazônia. 

O professor Philip Fearnside, pesquisador do INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, em sua palestra sobre o relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas, divulgado em 8 de agosto deste ano, mostrou pesquisas de várias equipes que mostram que o desmatamento sucessivo e o aquecimento do clima pode impedir a reprodução das árvores da floresta, começando pelas maiores e mais longevas. Os vários cenários apontam para a possibilidade da Floresta Amazônica se transformar em uma savana ou até mesmo em uma região semiárida. 

Professor Philip Fearnside
(Foto: Ana Lúcia)

Outra catástrofe prevista para o futuro é o fim dos rios voadores. As pesquisas do INPA provaram que a umidade que permite a existência da mata atlântica vêm da Amazônia através das correntes de ar que atravessam o continente. Com o fim da floresta essa umidade deixará de chegar, criando um grande deserto nas regiões sudeste e sul do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.

Todo esse desastre jogará mais carbono ainda na atmosfera agravando mais as mudanças climáticas que ficarão totalmente fora de controle e reproduzirão seus efeitos por todo o planeta. Isso coloca o Brasil e a Amazônia como o centro do futuro do planeta, justificando as preocupações que vários organismos internacionais e o Vaticano tem tido com a preservação da floresta.

Entre as principais ameaças levantada pelo Seminário para a Amazônia estão os grandes projetos desenvolvimentistas para a região e que se fortalecem entre si para criar um ambiente de desenvolvimento destrutivo. A mineração, as usinas hidrelétricas, a exploração madeireira, a abertura de estradas, o agronegócio com monoculturas extensivas, uso de agrotóxicos e criação de gado e principalmente as mudanças climáticas. 

Jama Wapichama, de Roraima
(Foto: Sonia Cifuentes)

Os efeitos dessas atividades pressionam as populações tradicionais e os povos indígenas ameaçando seus territórios e sua própria existência. Os peixes desaparecem dos rios prejudicando a pesca, o regime de chuvas se altera prejudicando a agricultura, a violência cresce com ameaças e assassinatos de lideranças populares, invasões e grilagem de terras indígenas e da união, enchentes e secas.

Segundo Ivo Poletto, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, há uma guerra sendo travada contra os pobres. “É uma guerra de caráter econômico cujos agentes e promotores instrumentalizam as leis, o Estado e as política públicas, concentrando as riquezas em suas mãos. Agora eles quererem dominar os bens comuns, as florestas, a água e outros para transformá-los em ativos de mercado.”

Ivo Poletto (Foto: Sonia Cifuentes)

O Seminário também mapeou as práticas que podem salvar a Amazônia. O projeto Tapajós Solar, que mostra alternativa de geração de energia solar em vez de hidrelétrica, os protocolos de consulta às comunidades tradicionais para a instalação de grandes projetos desenvolvimentistas, o fortalecimento da comunicação popular para democratizar o debate socioambiental, o uso de tecnologias sociais para a redução do desmatamento, a processos educativos das comunidades, ampliação das articulações regionais, projetos de reflorestamento da Amazônia, iniciativas de acolhida das comunidades migrantes, a resistência contra novas represas hidrelétricas, o cultivo de alimentos orgânicos, a proteção dos povos indígenas isolados, as redes de mulheres e as feiras do bem viver estiveram entre as práticas levantadas que precisam ser fortalecidas.

O Seminário do Bioma Amazônico também foi uma atividade de preparação para o oitavo Fórum Social Panamazônico – FOSPA, que será realizado nos dias 22 a 25 de março de 2020 em Mocoa, na Colômbia. Javier Marín, um dos organizadores do FOSPA disse: “Precisamos nos interligar. Temos que ser comunitários como é a vida da natureza, da selva.” Entre os temas que serão tratados no FOSPA estão a defesa dos rios, mulheres e território, democratização da comunicação, mapeamento dos conflitos, direitos humanos e empresas, mudanças climáticas, educação intercultural, segurança e soberania alimentar.

Javier Marín (Foto: Sonia Cifuentes)

Os compromissos estabelecidos pelo Seminário do Bioma Amazônico foram: o fortalecimento das inciativas de articulação na Amazônia, como o FOSPA e a ARCA (Articulação pela Convivência com a Amazônia), a busca de novas fontes de energia como a solar e biogás que não destruam os rios e o ambiente, a formação de redes de comunicadores populares, as práticas educativas para o cuidado do ambiente,  a defesa dos rios da Amazônia com nem uma barragem a mais, o fortalecimento da agroecologia e do reflorestamento e a recusa dos projetos de morte, como o agronegócio, as hidrelétricas e a mineração. 

Manifestação que percorreu as ruas de Manaus no último dia do Seminário
(Foto: Sonia Cifuentes)

O Seminário do Bioma Amazônico faz parte de uma série de seminários propostos em cada bioma do Brasil pelo Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social – FMCJS e realizado junto com entidades locais. Na Amazônia a organização foi feita pela ARCA – Articulação pela Convivência com a Amazônia, pelo SARES, Serviço Amazônico de Reflexão e Educação Socioambiental e pelo FMCJS, que contaram com o apoio da Misereor e da Cáritas Brasileira.

Outros dois seminários de biomas já foram realizados no Pantanal e no Cerrado. Ainda serão realizados em 2020 seminários nos biomas Semiárido, Mata Atlântica e Pampa.

Gerson Neto

Jornalista do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social