Famílias do Projeto RECA reflorestam a Amazônia em Rondônia
Por Angelo Ravanello e Albertina Romanha Ravanello – Comunicadores Populares e participantes do Processo de Formação Continuada e Multiplicadora do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental.
Nas décadas de 1970 e 1980, a região centro-sul do Acre recebeu grande número de famílias migrantes que vieram de várias regiões do Brasil. Muitos eram agricultores da região sul do Brasil e eles trouxeram culturas agrícolas características de sua região. Quando chegaram, desmataram vastas regiões, como era o costume deles, para tentar cultivar a terra. Logo perceberam que a terra da Amazônia não tinha as mesmas características das do sul do país, quando desmatada ficava pobre de nutrientes. Muitos partiram para a criação de gado. Várias espécies de pastagens tiveram sucesso. Além disso, muitos madeireiros se instalaram, devastando as matas, retirando as madeiras com maior valor de venda: MOGNO – CEREJEIRA – FREJÓ – ANGELIM – CEDRO e outras de grande qualidade comercial. No final dos anos 1980 a região foi atingida por uma grande inundação, deixando sua população praticamente isolada.
O socorro veio por meio de um contato com o Bispo de Rio Branco, Dom Moacir Grechi. Muitas famílias já planejavam abandonar a região. Foi então, que Dom Moacir indicou o CERIS, órgão que intermedia contatos com agências internacionais de ajuda a comunidades necessitadas. Formou-se uma comissão de agricultores, para iniciar os contatos.
A CEBEMO da Holanda interessou-se pela proposta. A Comissão de agricultores, assessorada por técnicos em projetos, formatou a primeira proposta que foi rejeitada pela Cebemo. Uma segunda proposta com valores menores de em torno de um milhão e meio de dólares americanos foi aceita. Iniciaram-se os contatos com as famílias de agricultores com a intensa tarefa de esclarecer a proposta e convencer a população.
Cada família de agricultores receberia em torno de 900 dólares, por empréstimo, para a manutenção própria, com o compromisso de devolução, com prazo para pagamento estendido por 5 anos mais carência de 3 anos. Era feito o contrato em escritório, não sendo possível a venda, ou transferência do projeto. Mais de trezentas famílias aderiram.
Nesse momento difícil foi plantada a melhor semente. O projeto RECA – Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado reflorestou as áreas desmatadas enriquecendo a floresta com espécies locais de alto valor comercial extrativista. As três primeiras etapas de implantação foram a demarcação das áreas de plantio, com no máximo dois hectares por família. A segunda etapa foi a formação de grupos de agricultores e treinamento para a constituição dos canteiros para a produção das mudas com irrigação e proteção. A terceira etapa foi a orientação técnica para o plantio no terreno escolhido.
A comissão central do projeto RECA se encarregou de buscar as sementes das árvores do projeto: CASTANHA DO PARÁ, CUPUAÇU e PUPUNHA (amarela e vermelha). Quando as mudas das plantas estavam prontas, iniciou-se o plantio sempre acompanhado e avaliado pelos técnicos.
No primeiro ano, a pupunha já produzia os primeiros cachos. No segundo ano era a vez do cupuaçu. A partir de então, o Reca já podia comercializar os produtos e obter renda. A castanha do Pará, cultivada por enxertia iria produzir as primeiras caçapas a partir do 8º ou 9º ano. Com o aumento na produção, foi necessária a aquisição de máquinas despolpadeiras. Dessa maneira, o Projeto Reca foi sendo conhecido na região e por todo o país.
Enquanto o Reca ia se formando, a Comissão Central, muito sabiamente, proporcionou a várias pessoas do projeto a participação em Cursos de Administração, Economia, Comercialização, entre outros.
CONSIDERAÇÃO FINAIS
Foi possível perceber que a implantação do Projeto Reca, teve como impulso forte a busca de renda para a sobrevivência das famílias. A questão ambiental se fortaleceu como consequência.
Fato histórico:
A fama do Projeto Reca foi longe. Foi quando a ganância dos poderosos (como sempre), procurou tirar proveito. Alguns se dirigiram ao local (NOVA CALIFÓRNIA, Local do projeto) com a proposta de “comprar” o Projeto. Com coragem e consciência, as agricultores rejeitaram qualquer proposta do gênero.
Vivenciamos na prática, toda a estruturação do projeto, que visava a auto-sustentabilidade, assentamento de agricultores, pelo INCRA. Com o passar do tempo fomos constatando que as terras não eram boas para o que pretendíamos inicialmente, a agricultura tradicional, mas a alternativa ecológica se consolidou e proporcionou a realização econômica que todos buscávamos.
Itapema, 28 de maio de 2020