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AMAZONIZA-TE ANTES QUE SEJA TARDE

A primeira Assembleia Mundial da Amazônia, sob a coordenação da Coordinacion de las Organizaciones Indigenas de la Cuenca Amazonica- COICA, Rede Eclesial Pan-amazônica- REPAM e Foro Social Pan-amazônico- FOSPA, foi realizada entre os dias 18 e 19 de julho por meio virtual. Só do Brasil, houve mais de 1.600 inscritos, chegando a um número aproximado de 3 mil inscritos. A participação foi animada por uma dinâmica de grupos de trabalhos prévios e por interesses, com esses temas: Boicote às empresas agroextrativistas; denúncia e pedido de providências com relação a pandemia de Covid 19; e Mobilização em torno das agendas prioritárias validadas nesta grande assembleia em defesa da Vida dos Povos Originários e populares da Pachamama, da Amazônia.

É importante destacar o grande esforço de entidades de apoio no suporte tecnológico, com tradução simultânea para quatro línguas: português, espanhol, francês e inglês, demonstrando a capacidade de mobilização e sensibilização em relação à Amazônia. Ela é reconhecida por todas e todos como bioma da Mãe Terra, que está morrendo por causa das violações de seus direitos vitais pelas práticas destrutivas do sistema que, por ser neoliberal globalizado, se torna capitalista, e provoca igualmente a morte das filhas e filhos da Terra.

Em todos os momentos de reflexão, promovidos desde a pré-Assembleia realizada no dia 17 pela COICA, os povos originárias da Amazônia declaram ao mundo que “mais do que portadora de direitos, a Natureza é o ser fundante da Vida” e, como tal, nós é que dependemos dela para viver, e não ao contrário. Por isso, a violação dos seus direitos faz que nós, os mais pobres, paguemos com a vida por doenças e pandemia provocadas por seres que, na verdade, agem em defesa da Mãe Terra.

A relação de filhos e filhas da Mãe Terra foi estendida para a reflexão sobre as violações dos direitos das mulheres, as mais exploradas pelo sistema excludente em curso, que viola o ventre das mães por se levantarem em defesa da Vida e dos territórios. Elas tem sido assassinadas, a exemplo da hondurenha Berta Cáceres, em 2016, por liderar uma campanha de resistência contra a construção de uma barragem hidrelétrica em território indígena por uma empresa privada de energia.

Fruto deste processo de mobilização, a Declaração da Primeira Assembleia Mundial da Amazônia nos conclama por esta linda poesia, de anúncio e denúncia:

“Algo novo está nascendo. Conseguem o escutar?

Dá para ouvi-lo, no meio dos gritos da Amazônia.

Levanta-se a luta dos povos amazônicos, atacados em seus territórios, suas memórias e culturas. Cresce o grito ensurdecedor da floresta, derrubada, queimada, saqueada pelo extrativismo violador, que só obedece ao poder e à ganância.

Nem mais uma gota de sangue e dor em produtos de consumo nas cidades do mundo!

Há um mutirão de resistência dentro das comunidades da floresta, do campo e da cidade, que estão se organizando frente à devastação e à fome que podem continuar após esta pandemia.

Porque o ecocídio, etnocídio e terricídio avançam pior que o vírus.

Os corpos e territórios das mulheres e da Terra são, historicamente, violentados por um sistema patriarcal, colonial e capitalista, que não entende dos cuidados da vida.

No entanto, no meio da dor, como se fosse um parto, algo novo está nascendo: um tecido rebelde de muitos espíritos da floresta e do cimento, que lembram que todas e todos somos Amazônia.

Esse tecido nasce na angustiante certeza de saber que não há mais tempo. É hora de nos unirmos na diversidade dos saberes dos povos de Abya Yala e do mundo, e nas culturas do cuidado, para devolver o espírito da floresta à humanidade.

AMAZONIZA-TE!

Os rios amazônicos nos atravessam, dão-nos o ar, cantam para nós canções de liberdade; somos filhas e filhos da Terra e da Água, dentro delas nossas raízes são nutridas e coexistem com as estrelas da Onça-pintada no Universo.

Amazoniza-te!

É agora ou nunca!”

 O pós-Assembleia já se deu no dia seguinte, com a reunião dos grupos de trabalhos, no compromisso e na urgência de estabelecer uma agenda de mobilizações. A tônica da urgência comunga com os compromissos do Sínodo pela Amazônia e da Laudato Si: em defesa da Casa Comum, de modo particular da Amazônia – Coração do Planeta. Dessa forma, movimentações dos GT´s Covid 19, Boicote e Mobilizações se somam e se multiplicam pelo Planeta inteiro.

Em todo o Planeta, a começar pela França, Reino Unido, Estados Unidos e países da América Latina, a pressão sobre empresas internacionais extratoras de recursos naturais de territórios de povos e comunidades indígenas e tradicionais já estão em curso, na tentativa de ganhar corações e mentes em defesa dos Direitos da Amazônia e de seus povos, visando boicotar essas corporações que promovem a Morte dos rios, das florestas, dos povos originários, das pessoas, especialmente as mais empobrecidas, e da Mae Terra.

No Brasil, iniciativas de defesa da Vida em sua integralidade, de modo especial dos povos indígenas, barbaramente atingidos pelo Covid 19, fizeram chegar denúncias ao Tribunal de Haia de crime de genocídio praticado pelo Governo brasileiro, um atentado à Vida das pessoas e da Natureza agravado com a queima acelerada da floresta amazônica, do Cerrado, do Pantanal.

Nesse sentido, as Mobilizações: dia da Pachamama – 1º de agosto; dias contra queimadas – de 14 a 28 de agosto; dia da Amazônia – dia 5 de setembro, e a defendamos do etnocídio e ecocídio extrativista; dia Internacional dos Povos Indígenas – 9 de agosto; processos de defesa da Água e Territórios; campanha forte das mulheres: Território, nosso Corpo, nosso Espírito; o Tribunal Internacional da Natureza; Articulação Direitos da Natureza – a Mãe Terra; o FOSPA em Movimento, entre tantas outras fortes iniciativas.

O processo de mobilização em curso, tendo clareza que as intensas mudanças climáticas são causadas pela ação destruidora das grandes corporações aliadas a governos, e que afetam diretamente os mais pobres e marginalizados pelo sistema capitalista, reconhece e valoriza as boas práticas de convivência com a Mãe Terra secularmente praticadas pelos povos indígenas e comunidades tradicionais, bem como pelos que produzem alimentos com práticas agroecológicas e agroflorestais, e com diversificadas formas de economia popular solidária, em que o Bem Viver tem seu lugar etno-histórico. Essas iniciativas reforçam a vida no enfrentamento à pandemia com o uso das medicinas tradicionais, nas culturas alimentares de subsistência e de resistência que se fortalecem em toda parte, e na solidariedade com comunidades populares dos centros urbanos, numa prática de economia solidaria, com alimentos sem veneno, num acordo de que a nossa causa é a Casa Comum.

“Mais forte que todas as vozes de morte, será o grito de vida que nasce da Amazônia e do mundo!”

Porto Velho, 19 de agosto de 2020

Iremar Antônio Ferreira

Educador Popular, mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, membro da Alianza Defensorxs de los Rios de la Amazonia, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) e do Instituto Madeira Vivo (IMV).