Energias renováveis: transição energética popular e justa para a América Latina
(Fonte: MOCICC- Peru)
• II Encontro Internacional de Energias Renováveis, realizado de 23 a 30 de outubro, reuniu cerca de 50 lideranças de movimentos sociais, quilombolas, indígenas e ativistas do Brasil, Bolívia e Peru.
• O evento pôde fortalecer seus compromissos com a transição energética por meio de uma declaração que contribui para a discussão de alternativas energéticas nas comunidades e povos indígenas.
De 23 a 30 de outubro de 2020, o Movimento Cidadão Contra as Mudanças Climáticas – MOCICC (Peru), o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS- Brasil) e o Grupo de Trabalho sobre Mudanças Climáticas e Justiça – GTCCJ (Bolívia), com o apoio da MISEREOR da Alemanha, realizaram o “II Encontro Internacional de Energias Renováveis: mobilizando ações para uma transição energética justa e popular”, dois anos após o primeiro encontro realizado em Cajazeiras (PB), com o objetivo de continuar a construir um debate sobre alternativas energéticas.
O evento virtual reuniu cerca de 50 lideranças (40% deles jovens) de movimentos sociais, quilombolas, indígenas, camponeses, professores e coordenadores socioambientais do Brasil, Bolívia e Peru. A iniciativa permitiu que os representantes dos quatro países contribuíssem para o debate sobre políticas e regulamentação da transição energética em suas regiões.
Os ativistas e lideranças também conseguiram ser treinados e atualizados sobre as alternativas energéticas em seus territórios e comunidades, o que também fortaleceu a integração dos três países, que buscam uma mudança na matriz energética que respeite o meio ambiente e os territórios.
II Encontro sobre Energias Renováveis
No primeiro dia do evento, houve um resgate da memória do I Encontro Internacional de Energias Renováveis em Cajazeiras, além de uma análise da situação atual e política dos países participantes quanto à transição energética popular e justa. Contribuíram neste momento os especialistas, Tania Ricaldi, coordenadora da Comissão de Estudos Energéticos do Grupo de Trabalho sobre Mudanças Climáticas e Justiça (GTCCJ- Bolívia), Antonio Zambrano, coordenador nacional do Movimento Cidadão Contra as Mudanças Climáticas (MOCICC- Peru) e Joílson Costa, Coordenador Executivo da Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil.
No segundo dia do encontro, foram compartilhadas as experiências comunitárias dos participantes sobre alternativas energéticas em suas regiões, bem como a importância da energia ser um direito universal. No terceiro dia do evento, os participantes foram capacitados sobre as ferramentas para o desenvolvimento das energias renováveis nos territórios., bem como as atualizações sobre Eletrotécnica e sistemas fotovoltaicos pelo Centro de Energia da Universidade Nacional de Engenharia do Peru (UNI).
No quarto dia de encontro, continuaram os treinamentos e atualizações com os ativistas dos três países. No último dia, II Encontro Internacional de Energias Renováveis se encerrou com o compromisso coletivo de se repensar as formas de fazer uma transição energética justa e popular em tempos de crise.
Impressões dos participantes do II Encontro de Energias Renováveis
Para Yeffel Pedreros, do Instituto de Desenvolvimento Urbano CENCA (Peru), “a luta para fazer uma transição energética também está ligada à soberania e à segurança territorial e hídrica e alimentação, e isso requer democracia participativa, para a defesa dos direitos das populações mais vulneráveis ”. Segundo Pedreros, este é um desafio da América Latina para a transição energética e para isso, “devemos e continuaremos a nos articular com os diferentes atores, sejam eles comunitários, privados, públicos dos três países e assim continuar atuando por uma transição energética justa e popular”.
Adriana Merida, de Cochabamba, Bolívia, ressalta que a transição energética “é um tema vital e importante que deve ser aplicado às sociedades para evitar danos ao meio ambiente e conter a poluição”. Além disso, destacou a formação técnica que tiveram durante o encontro, como a aplicação, construção e implementação de painéis solares como uma alternativa real. “É importante desenvolver programas, métodos e módulos que incentivem os governos a serem aliados dessa transformação energética e não para que apostem nos métodos extrativistas, mas que apoiem a criação de um ambiente saudável, protegido como deveria ser na prática”, concluiu.
Por fim, Rodrigo Marinho, representante da Equipe de Articulação e Comunidades Negras do Brasil, destacou a importância dos recursos naturais estarem sempre gratuitos e disponíveis para toda a humanidade como um bem comum. “Defendemos também a não construção de energia proveniente de barragens, na perspectiva de que possamos incorporar algo que contribua com todo esse processo do problema climático global. O curso trouxe uma outra dimensão para mim, dadas todas as dificuldades que esta questão das comunidades isoladas têm, que não tem acesso à energia, o curso nos mostrou que coletivamente podemos construir um processo de transição energética na base e incorporá-lo em nível municipal, por meio de uma lei orgânica ”, acrescentou.
Como parte dos resultados também foi produzida a Declaração de Lima para a Amazônia e América Latina.
Leia o documento completo https://fmclimaticas.org.br/declaracao-de-lima-para-a-amazonia-e-america-latina/