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Igarapés de Manaus

*Artigo escrito pela Comunicadora Popular Kamila Cunha de Albuquerque para o Processo de Formação Continuada e Multiplicadora do FMCJS

MANAUS-AM;13/08/2013 – CIDADES – LIXO TOMA CONTA DOS IGARAPÉS DO PROSAMIM. NA FOTO: IGARAPÉ DO MESTRE CHICO. FOTO: EUZIVALDO QUEIROZ/ACRÍTICA

A cidade de Manaus, localizada na Amazônia Central, representa atualmente uma metrópole em expansão em meio à biodiversidade da maior floresta tropical do planeta Terra. A abundância e a alta densidade hídrica da região, são elementos que refletem a natureza presente e viva, mediante o caos que se constrói frente à elevada demanda de serviços e infraestrutura urbana, gerada nesta metrópole. A superfície de Manaus é recortada por cerca de mil (1.000) igarapés¹ que compõem um conjunto hidrográfico formado grandes bacias urbanas como o Mindu e o Quarenta — que se encontram em alto estágio de contaminação — no entanto, ainda é possível encontrar algumas nascentes em estado de preservação. Além dessas bacias, os igarapés Puraquequara e Tarumã-Açu delimitam os setores Leste e Oeste da cidade. 

A expansão da metrópole, junto ao crescimento populacional ocorreu de maneira intensa, evidenciando-se por uma elevada densidade demográfica de aproximadamente 191,44 hab./km², para uma população estimada em 2019 de 2.182.763 pessoas. Mediante esse crescimento, o estado tende a enfrentar dificuldade de lidar de forma coerente com este fenômeno. Dentre as principais causas da contaminação dos rios, podemos citar a essencial falta de um plano de saneamento básico. A estratégia do governo em tentar minimizar a expansão desordenada da cidade, foi construir conjuntos habitacionais desconsiderando os trechos de rio ali presentes. O escoamento superficial da cidade direciona-se essencialmente aos rios carreando grande quantidade de resíduos sólidos flutuantes como garrafas pet. 

No processo de construção da educação ambiental, alguns cidadãos e grupos de interesse, dedicam-se a minimizar esse desgaste ambiental que nós mesmos causamos. No extremo oeste da cidade de Manaus, a bacia do igarapé Tarumã-Açu. diferentemente da grande maioria, ainda se encontra em bom estado de preservação hídrica. Isso quer dizer que a balneabilidade, o lazer, o turismo e outros usos ainda 

perfeitamente possíveis nesta bacia. Neste contexto, motivados pela intensidade destes usos, alguns pesquisadores já começam a realizar testes de IQA (Índice de Qualidade da Água) que mostram superficialmente algumas alterações na qualidade da água em seu trecho mais urbano. 

A bacia hidrográfica do Tarumã-Açu abriga uma mescla de ocupações sociais distintas. Em seu baixo curso, predominam as ocupações da alta classe social, intensa verticalização e valorização paisagísticas e turística. Em seu médio curso, encontram-se aglomerações subnormais, bairros oriundos de uma expansão desordenada, e assentamentos indígenas que expressam extremo descaso. Em seu alto curso, temos uma ambientação mais rural ocupada por sítios e fazendas. No entanto a industrialização também é presente neste trecho. 

Como forma de conciliar e minimizar os impactos nesta bacia hidrográfica, e prevenir que o futuro desta, seja degradado igualmente, aos outros cursos hídricos de Manaus, foi criado o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tarumã-Açu. A proposta de criar um Comitê de Bacia Hidrográfica para um rio da Amazônia se tornou um desafio, visto que o Comitê propõe a conciliação dos usos diante da escassez de água. Na região de Manaus, em relação aos corpos hídricos, a questão se coloca diante da qualidade de tanta água presente em apenas um território. 

A funcionalidade e a dinâmica de um Comitê se tornam cada vez mais dificultosas ao consideramos que, a predominância e participação neste colegiado vem essencialmente daqueles que possuem interesse pelo funcionamento da natureza atrelado ao capitalismo econômico. 

O Comitê é um colegiado que traça seus objetivos a partir da implantação políticas públicas de recursos hídricos, principalmente através da Lei Nacional 9.433, a Lei das Águas. Muitas diretrizes destas politicas se colocam de forma genérica a todo país desconsiderando as peculiaridades naturais de cada ecossistema de nosso território nacional. 

A princípio precisamos considerar a natureza em primeiro lugar. Assim como cita Costa (p.120, 2016) “Os habitantes das cidades devem entender e assumir que a água, por exemplo, não vem dos supermercados ou da torneira. ” Considerar que a natureza também tem seus limites e que nem sempre estará a nosso devido dispor, é ter respeito ao que rege a consciência ecológica. 

Enquanto os ideais humanos se sobressaírem aos princípios e limites da Natureza, não chegaremos a equilíbrio do qual o homem deve fazer parte para tomar sua vida na terra de forma conjunta. 

 1 Nomenclatura regional amazônica para definir curso d’água.