EUA reconhecem efeitos de mudanças climáticas
EUA reconhecem efeitos de mudanças climáticas
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Estudo mostra que aumento de eventos extremos na natureza levará a conflitos por água e alimentos em escala global e porá em risco a segurança do país
As conclusões de dois estudos oficiais deram um choque de realidade nos EUA em relação ao futuro do planeta. A Avaliação Climática Nacional, encomendada a cientistas pelo governo americano e divulgada pela Casa Branca, afirma que os efeitos da ação do homem nas mudanças climáticas são sentidas em todo o país: a água escasseia em regiões secas; as chuvas estão mais torrenciais nas áreas úmidas; as ondas de calor são mais frequentes, severas e há maior número de incêndios em matas e florestas.
Já o relatório da CNA Corporation, organização militar de pesquisa financiada pelo governo americano, alerta que a aceleração das mudanças climáticas são um risco para a segurança dos EUA ao atuar como um catalisador para conflitos políticos em escala global. A organização cita secas no Oriente Médio e África como causa de choques devido à escassez de alimentos e água; e a elevação do nível dos oceanos como uma ameaça a pessoas e suprimentos em áreas como o Leste da Índia, Bangladesh e Delta do Mekong, no Vietnã, com potencial para provocar ondas de refugiados. O estudo conclui que o aumento de eventos climáticos catastróficos no mundo criará maior demanda por tropas americanas, no momento em que Washington enxuga a máquina militar para equilibrar o orçamento. A chancela oficial nos dois relatórios permite supor mudanças na posição dos EUA. Washington costumava minimizar as advertências de cientistas sobre a necessidade de uma ação global para manter o planeta habitável, e retirou o apoio ao Protocolo de Kioto. A postura começou a mudar com a eleição de Barack Obama. No discurso sobre o Estado da União, em janeiro, ele prometeu emitir “ordens executivas” sempre que o Congresso bloqueasse suas propostas para reduzir a poluição, e acelerar a transição para energia limpa e sustentável.
Os efeitos das mudanças climáticas estão em todo o mundo. É o caso da recente inundação na Região Norte e da seca no Sudeste e Sul do Brasil. Estudos mostram que a seca pode estar relacionada à degradação da Floresta Amazônica: poluição, queimadas e desmatamento não afetariam as chuvas apenas na região, mas também em outras partes do país. No caso dos EUA, a mudança da matriz energética, com a produção em larga escala de gás não convencional, menos poluidor, pode tornar os parlamentares republicanos mais receptivos às propostas de Obama. E dar a delegados do país mais flexibilidade nas futuras negociações climáticas. Já a mudança no Brasil foi para pior: com a seca, foi necessário acionar todas as termelétricas disponíveis, altamente poluentes, para compensar a queda da energia gerada pelas hidrelétricas. E o controle de preços de combustíveis desestabiliza o álcool, mais limpo que a gasolina.
São novos fatores que poderão embaralhar as cartas na busca de um novo acordo global que comprometa todos os países com o corte das emissões de gases estufa, a ser firmado, em princípio, na COP 21, em 2015, em Paris.
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