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O meio ambiente no oeste catarinense

Texto elaborado para o Processo de Formação Continuada e Multiplicadora do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social pela turma de Santa Catarina.

Autores: Luciano Henning, Fábio Miranda, Gilso Giombelli, Tamirys Taborda, Ezequiel Giaretta, Aline Justino

Elaboração final do texto: Luciano Henning, Fábio Miranda, Gilso Giombelli

Como era o meio ambiente na região Oeste do estado de Santa Catarina em meados do século XIX?

Como era o meio ambiente na região Oeste do estado de Santa Catarina no início do Século XX?

Como está o meio ambiente na região Oeste do estado de Santa Catarina no início do Século XXI?

Estas três questões ajudam a balizar esta reflexão e breve interpretação histórica do que aconteceu nesta região histórica conhecida como oeste Catarinense nos últimos 150 anos, em relação ao meio ambiente.

O objetivo é, sem a pretensão de esgotar, apenas levantar alguns apontamentos para adentrar neste mundo complexo, escondido e falacioso da ocupação territorial e os impactos ambientais que aqui ocorreram.

Voltar atrás a mais ou menos cento e cinquenta anos, na região Oeste, é tentar imaginar como seria um espaço ocupado por populações indígenas diversas (Guarani, Kaingang, Xoklens, etc.), da fixação de paulistas (bandeirantes) que buscavam indígenas nos Sete Povos das Missões em pontos estratégicos de rotas (?), remanescentes da guerra do Paraguai que ao retornarem aqui se fixaram e criaram seus espaços de proteção (quilombos) e de mistura junto as populações indígenas (surge o Caboclo), e contava também com imigrantes europeus (poucos) que para aqui se dirigiam para fugirem de problemas jurídicos, políticos ou sociais do Rio Grande do Sul, do Paraná, e de outras regiões de Santa Catarina.

Tudo acima pode não ser tão verdadeiro, mas são hipóteses para explicar um pouco da origem da população já existente nesta região antes da colonização (?), ou invasão colonialista feita a “ferroe fogo” por empresas colonizadoras no início do século XX.

O que pode ser muito verdadeiro é que o Oeste Catarinense era uma exuberante floresta da Mata Atlântica, com uma diversidade impressionante e pouco conhecida, de animais, vegetais, populações humanas e muita água. Desde as beiras dos grandes rios como o Rio Uruguai, Rio do Peixe, Rio Irani, Rio Chapecó, Rio das Antas e Rio Piquiri com suas matas características, até os planaltos e planícies com Araucárias e Imbuias as matas nativas eram hegemônicas, quebradas por aldeias indígenas e sua “agricultura itinerante”, algumas fazendas de gado, e algumas áreas agrícolas intensivas de “coivaras” ou queimadas, esta região era extremamente conservada, do ponto de vista ambiental, apesar de ter uma população relativamente considerável, mas com práticas agrícolas pouco agressivas, e com pouca consciência conservacionista.

Como era distante dos centro econômicos e políticos e ainda indefinida quanto a que país pertencia era uma espécie de “terra de ninguém”, abandonada a própria sorte, que por sorte era muita: Talvez foi a última fronteira de Mata Atlântica ainda pouco explorada na época.

No final do século XIX até os anos trinta do século XX ocorreu uma rápida ocupação territorial de descendentes de alemães, italianos, poloneses que com fortes incentivos públicos re-imigraram das chamadas “terras velhas” do Rio Grande do Sul e ao aqui chegarem, diante da mata densa, promoveram uma devastação florestal intensa para garantir a sua sobrevivência baseada em cereais anuais e animais confinados ou cercados.

Não podemos deixar de registrar que as populações já existentes foram exaustivamente pressionadas, despojadas, amedrontadas e eliminadas dependendo da postura individual ou coletiva de cada indivíduos ou grupo. As melhores terras foram cedidas para os imigrantes e retiradas a força dos ocupantes ali existentes, ficando ate hoje situações de litígio sobre terras na região, colocando agricultores e indígenas principalmente, em “disputas entre vítimas” estimuladas pelos descendentes dos usurpadores das terras destes povos.

A mesma prática de usurpação de terras e eliminação de populações valeu para o ambiente natural. Até os anos 70 do século XX, mais de 80 % das florestas foram derrubadas para dar lugar a agricultura anual e a produção animal, inclusive em áreas com declividades acima de 40 %, ou seja, área de extrema declividade para uso de tração animal e uso de equipamentos agrícolas mais modernos.

Desde as primeiras levas de imigrantes foram retiradas as madeiras para serem levadas de “balsa” pelo Rio Uruguai para fazer os primeiros capitais dos donos das colonizadoras. Com a chegada massiva, apesar das centenas de serrarias que se instalaram para serrar as madeiras para as casas e outras instalações agrícolas, possivelmente mais da metade da madeira derrubada foi queimada para dar lugar as plantações anuais. Relato de pessoas afirmam que se fazia queimadas para eliminar as torras de madeira que atrapalhavam as lavouras. Literalmente era transformar rapidamente em cinzas tudo que atrapalhava a agricultura.

No mesmo período também a fauna abundante foi caçada exaustivamente até chegar a níveis críticos para muitas espécies  de aves, peixes e animais de “pelo”.

A “modernização da agricultura” chamada Revolução Verde implantada pelo Estado (pesquisa, extensão e crédito) somaram e aceleraram nos anos setenta, oitenta e noventa práticas agressivas ao meio ambiente, com a inclusão de produtos tóxicos no meio ambiente com o nome popular de “remédio”, interferindo profundamente nas populações de insetos, fungos e bactérias.

Também os incentivos fornecidos as agroindústrias tradicionais do Oeste Catarinense neste período (Perdigão, Chapecó, Sadia, Seara, Aurora entre outras), que a partir de sistemas de integração (ou entregação), começaram a concentrar a produção animal, geraram grandes volumes de dejetos que sem um tratamento adequado foram lançados no solo, ao longo de mais de cinquenta anos, e em decorrência atingindo o lençol freático superficial, intermediário e profundo com efluentes poluidores como urinas (nitratos?) e dejetos carregados de produtos químicos utilizados na nutrição e saúde dos animais e na limpeza dos espaços de produção confinada.

Mesmo gerando um grande Produto Interno Bruto (PIB), que permitiu o aumento da renda e o consumo, gerando mais impostos, nesta mesma região existe um grave problema de desleixo com o saneamento básico e a reciclagem de lixo, que também fornecem matéria-prima poluente de grande perigo. Este problema ainda hoje é grave, pois a maioria dos municípios não tem sistemas de saneamento e reciclagem de lixo. Embora sendo considerada por muitos, de forma arrogante, como uma “europa”, neste quesito, poderia esta região ser considerada um “império romano decadente” ou uma lagoa Rodrigo de Freitas: famosa mas desonrada, ambientalmente falando.

No século XXI, ao olhar o aspecto de vegetação do Oeste Catarinense, é comum dizer que “tem mais árvores que a quarenta anos atrás”, e isso em sentido aparente é verdadeiro, porém a composição deste aparente esverdeamento precisa ser diagnosticada:

1- muitas áreas são de reflorestamentos de eucalipto e pinus (desertos verdes);

            2- muitas áreas são de regeneração natural da mata em áreas inapropriadas para qualquer tipo de agricultura anual ou perene (encostas, morros, barrancos, pedreiras, etc.);

3- muitas áreas são de remanescentes da mata nativa (extremamente fragmentada) que sobrevivem por dificuldades de acesso e/ou proibições da legislação;

4- algumas áreas (?) são preservados por consciência dos proprietários privados ou públicos (parques, reservas particulares, e reserva maiores que as exigidas pela legislação);

Mesmo com este aparente esverdeamento, ainda temos muitos desafios quanto a fauna e a flora e graves problemas no solo, na água e no ar em decorrência das atividades agrícolas, atividades industriais e atividades humanas que são efetivadas na região.

O que é notório é que estão retornando alguns animais que haviam desaparecido a muitos anos e o retorno de algumas espécies vegetais que não se via em quantidade.

Porém não é e nem será suficiente para gerar o devido equilíbrio, se não forem tomadas atitudes coletivas e coerentes em relação aos sistemas produtivos agrícolas, em relação aos sistemas industriais poluentes desde a produção até a elaboração final de alimentos, e ao saneamento básico nas cidades e no meio rural.

Também o que agrava é que a hegemonia cultural é conservadora, reacionária, machista, misogênica, racista, preconceituosa, e quem se veste de ambientalista é considerado perigoso, mais do que se for de esquerda ou direita.

Temos algumas experiências acontecendo em diversos locais, de criação de novos modelos de produção, agroindustrialização e até, ousadamente, buscando apontar soluções para o saneamento, mas não são consideradas e apropriadas pelos governos, pelas empresas, pelas organizações sociais e pouco fortalecidas e aplicadas pelos movimentos sociais e suas redes.

A igreja aponta, após a publicação da “Laudato Si” (18-06-2015), um caminho novo e que pode ajudar a criar uma nova pastoral (Pastoral Ambiental), ou uma ampliação teológica (Holística), acrescentando a dimensão ambiental para o que se tenha de interpretação da “vida em abundância” e, que se torne possível colocar a ecologia como base para as demais ciências.

Referências:

Documentário: agua_vida:

https://www.youtube.com/watch?v=xg4AskwW0HY

Laboratório de Analise Ambiental (LAAm)

http://laam.ufsc.br/

LEFF, Enrique. Et al. Manifesto pela Vida: Por uma Ética para a Sustentabilidade. 2002.

http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/manifestovida.pdf

Palestra do Professor Ademir Reis na abertura da Campanha da Fraternidade (ALESC)

https://drive.google.com/file/d/0B8NzC75TrtDXS1ZwbGRxT0JVZE0/view

Projeto Rede Guarani/Serra Geral

http://www.rgsg.org.br/

PORTO-GONÇALVES, Carlo Walter. Amazônia: ecologia, demografia e soberania contribuição para uma reflexão crítica. GEOSUL, n. 9 – 8 – Ano IV – 29 semestre de 1989.

https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/12715/11884

SCHEIBE, Luiz Fernando. Sustentabilidade e as dinâmicas da natureza e do meio ambiente. Apresentação na Disciplina: Análise da Qualidade Ambiental do Programa de Pós Graduação em Geografia – UFSC. 2011.

http://laam.ufsc.br/files/2011/05/sustentabilidade-e-as-Dinamicas.pdfhttp://laam.ufsc.br/

SCHEIBE, Luiz Fernando. BUSS, Maria Dolores. FURTADO, Sandra Maria de Arruda. Atlas Ambiental da Bacia do Rio Araranguá. Florianópolis: UFSC. Ed. Cidade Futura. 2010. 64p.

SOUZA, Marcelo Lopes de. O Desafio Metropolitano: um Estudo Sobre a Problemática Socio-espacial.  Editora: Bertrand Brasil. 2000.

100 anos de Contestado a Maior Guerra Camponesa da América Latina(1912/2012): Uma Analise dos Efeitos Sobre o Território Sul- Brasileiro. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Nilson_Fraga/publication/282917555_100_ANOS_DA_GUERRA_DO_CONTESTADO_A_MAIOR_GUERRA_CAMPONESA_NA_AMERICA_DO_SUL_19122012_UMA_ANALISE_DOS_EFEITOS_SOBRE_O_TERRITORIO_SUL-BRASILEIRO/links/5622f0ef08aed8dd1944157d.pdf  na data de 21/07/2017

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