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Região Panamazônica se une pelo direito dos povos que dependem dos rios para sobreviver

Guajará-Mirim (RO), 24 de agosto de 2016 – Às margens do rio Mamoré, mais de 100 pessoas participaram nesta terça-feira (23) da abertura do II Encontro Sem Fronteiras Brasil, Bolívia e Peru: Frente ao Câmbio Climático e os Mega Projetos de Infraestrutura – Povos e Comunidades do Campo e Cidade, Florestas e Rios em Defesa da Mãe Terra e Contra os Projetos de Morte. Realizado no Centro de Treinamento São José, da Diocese de Guajará-Mirim (RO), o evento contou com a presença de representantes indígenas, extrativistas, comunidade de matriz africana, agricultores familiares, moradores urbanos.

Na ocasião, a comissão organizadora, composta por representantes do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS), da Regional do Acre do Conselho Indigenista Missionário (CIMI/AC) e da Aliança dos Rios Panamazônicos, deu as boas-vindas aos participantes. “É preciso reconhecer que os rios são vivos e fontes de vida da Mãe Terra, como o sangue é a fonte da renovação da vida humana”, declarou o coordenador do FMCJS, Ivo Poletto.

Desde a recepção, na manhã desta terça (23), o II Encontro Sem Fronteiras começou com festa. A acolhida das delegações contou com a alegria e o canto dos representantes das comunidades e entidades da Bolívia e dos estados do Acre e de Rondônia. Ao som dos versos “Bem-vindo Oleré. Seja bem-vindo Olará! Paz e bem para você que veio participar”, a equipe de animação, coordenada por Iremar Ferreira do Instituto Madeira Vivo (IMV) e Maria Petronila da Comissão Pastoral da Terra (CPT), movimentou os presentes.

A mística de abertura foi realizada à beira do rio Mamoré e teve a presença de um grupo de jovens e crianças indígenas. Participantes de um projeto de fortalecimento cultural, o grupo viajou 18 horas de voadeira para estar no II Encontro. Por meio da dança e canto, os jovens externaram o respeito ao rio e falaram das violações dos direitos dos povos e comunidades que dependem do rio para sobreviver.

A importância da participação das mulheres na luta a favor da vida da Mãe Terra e da Mãe Rio também foi destaque. Ressaltou-se ainda a ameaça observada pelos projetos de morte, em particular a inundação ocorrida em 2014 e a grande seca de 2016, que tem desestruturado o modo de vida dos povos e comunidades das beiras dos rios.

Após a abertura, os participantes foram convidados a refletir sobre “como eu sinto as mudanças climáticas e quem identifico como causador”. Os grupos dialogaram e compartilharam casos emblemáticos. Os dois eventos mais lembrados foram o desmatamento e sua relação com as enchentes e as secas, e os sofrimentos e inseguranças das comunidades afetadas pela grande enchente de 2014, agravada pelas represas construídas no Rio Madeira para produzir eletricidade.

“A implantação da UHE Jirau provocou a perda de casas, da produção de alimentos devido a formação de bancos de areia, desabamento de escolas, sendo que muitas famílias ainda vivem em barracas de lona e em péssimas condições e sem atendimento governamental”, disseram os participantes bolivianos Fabrício e Dona Flora.

Indígenas do Acre, Nawa Pana Huni Kui e Anoan denunciaram a ação do governo na floresta. “Os projetos de mineração, de exploração madeireira estão fazendo o clima mudar e estamos tendo pouca água, pouca caça. Precisamos gritar forte em defesa da vida na Amazônia”, afirmaram. Para Liliane da Comissão Pastoral da Terra “o causador das mudanças climáticas é o sistema econômico, com a omissão e conveniência do Estado”.

Para encerrar as atividades do primeiro dia, foram realizadas apresentações de cantos e danças indígenas, música popular brasileira e dança boliviana. Ao final, foi exibido o filme “Jirau e Santo Antônio”, que denuncia as mazelas promovidas com a implantação das UHE´s de Santo Antônio e Jirau. O filme é produzido pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Movimento dos Sem Terra (MST), com apoio do Fundo Casa e Federação Brasileira dos Direitos Humanos (FBDH).

As atividades do II Encontro Sem Fronteiras seguem até esta quinta-feira (25), às 12h, quando as delegações retornarão aos seus Estados. O evento consiste em uma etapa do Seminário Nacional do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS), marcado para outubro deste ano.

Fonte: Com informações do IMV/ Aliança dos Rios Panamazônicos.

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